Nome:
O Encantador de Flechas
Série:
Supernova – Livro #01
Autor:
Renan Carvalho
Edição:
2/2015
Editora:
Novas Páginas
Páginas:
440
Sinopse:
Imersa
em uma ditadura implacável, a isolada cidade de Acigam sofre com a
ameaça da guerra civil. De um lado, a Guilda, um grupo que utiliza
os ensinamentos da Ciência das Energias para exigir direitos para a
população. Do outro, um governo tirano, resguardado por soldados
especialistas em aniquilar magos — nome vulgar dado aos praticantes
da tal ciência. No meio desse conflito vive Leran, que, após ser
tragado para a rebelião, tenta aprender mais sobre sua misteriosa
habilidade de encantar objetos com a energia dos elementos.
Comentários:
O livro
meio que chegou às minhas mãos de surpresa, quando o ganhei de um
primo. Já tinha visto a capa na internet mas desconhecia o enredo, e
como me determinei a não conferir sinopses antes de iniciar a
leitura resolvi que entraria nessa de cabeça. Mas ao notar o nome do
autor na capa foi inevitável a constatação de que se tratava de um
brasileiro, e logo a de que a literatura nacional vai muito bem,
obrigada.
Leran
Yandel (ou Le, se preferirem) é um jovem de 17 anos que vive em
Acigam, uma cidade aparentemente comum mas que vive sob a tirania de
um rei e seu exército. O garoto está terminando o ensino
convencional, mas como a cidade é cercada por muros e não possui
universidades suas perspectivas de futuro não são muito
promissoras: trabalhar na loja de seu avô Bretor e continuar tendo
aulas de magia (como a ciência é vulgarmente chamada pelo governo)
com ele. Le teria uma vaga garantida no Exército por ser o melhor
aprendiz de arco de sua turma, mas se recusa por saber de toda a
opressão a qual a população é submetida. Até suas aulas de magia
precisam ser escondidas, pois é algo estritamente proibido.
O fato é
que o rapaz está totalmente enganado ao pensar que seu futuro será
simples. Não bastasse presenciar a morte de um amigo de seu avô
pelas mãos de um agente especial denominado Silenciador e descobrir
que o avô junto com outros amigos comerciantes formam uma Guilda de
Magos que luta contra o governo, ele logo terá que entrar nessa
luta. Le terá que se tornar um exímio controlador e guerreiro para
lutar por aquilo que acha certo e a segurança de sua família. E
também terá que aprender a não confiar em ninguém.
Esse é
só o início da história de O Encantador de Flechas,
primeiro volume da trilogia Supernova, que se mostra rica em
detalhes e desdobramentos. De início temos a impressão de que
Acigam realmente se trata de um lugar comum e até bastante
contemporâneo, considerando as moradias, veste e o trem como meio de
transporte público urbano. É aos poucos, conforme vamos descobrindo
mais sobre a vida de Le e principalmente as aulas que tem na escola
que vemos o quanto esse lugar é diferente. Afinal, em que lugar hoje
em dias jovens aprendem a usar arco e flecha como ferramentas de
combate e não um esporte? Além de que a ciência, apesar de ser
diferente da nossa, é chamada de magia pelo governo e ter sua
prática estritamente proibida. Usando isso até para manipular a
parte mais humilde da população. Com isso, pode-se dizer que Renan
criou para o seu mundo uma boa mistura de contemporâneo com
medieval.
Talvez
seja certo dizer que há também uma mistura interessante de gêneros.
Embora seja tida como uma história de fantasia, é sempre lembrado o
fato de que a tal magia é na verdade uma ciência e que os magos são
na verdade controladores de energias. Então apesar da introdução
do livro ser uma história sobre deuses criando um mundo (que é o
que jovens como Le aprendem na escola) dar essa impressão de ser uma
fantasia, essa mais tarde se mostra uma metáfora das tais energias
que deram origem ao mundo. O que junto aos equipamentos super
elaborados garante um toque de ficção cientifica. Além de que ter
um governo tirano oprimindo a população traz ares de distopia.
Os
personagens e a trama também contam com uma boa construção. Nada
acontece por acontecer, tudo tem alguma razão para estar lá mesmo
que demore um pouco a se mostrar. E mesmo tendo diversos personagens,
cada um traz uma personalidade única e marcante. O protagonista Le,
por exemplo, é um jovem maduro para a sua idade por conta da vida
que leva (também por ter perdido o pai muito cedo) mas que ao início
ainda tem sonhos de garoto, e com tudo que vem a acontecer se obriga
a crescer de vez e se tornar um homem adulto. Bretor é aquele avó
carinhoso e paciente mas que esconde seus segredos. Dos demais
personagens ainda vale citar a mãe super protetora de Le, Laura, e
sua irmã mais nova, Luana, que além do humor sarcástico será uma
peça fundamental para os próximos volumes. Sem esquecer Judra, a
misteriosa garota por quem Le se apaixona.
Outra
coisa que me agradou foi o fato de que não existe um lado totalmente
bom e um totalmente mau. Existem pessoas boas e más, mas elas não
estão estritamente ligadas a um ou outro grupo. Claro que em Acigam
os magos são aqueles que se rebelam contra a tirania do governo, os
bons por assim dizer. Mas conforme vamos descobrindo mais sobre os
Silenciadores, como vieram parar nessa vida e como funciona o mundo
fora dos muros que não existem divisões. São pessoas sujeitas a
falhas de caráter independente do círculo em que nasceram e/ou
vivem. E nem todo mundo é o que aparenta a uma primeira vista. São
acima de tudo pessoas querendo sobreviver, como é no mundo real.
A
narrativa é feita em primeira pessoa mostrando as perspectivas de Le
e Judra. O enredo é dividido em capítulo medianos distribuídos em
quatro partes, sendo três narradas por Le (as duas primeiras e a
última) e apenas uma por Judra. O ritmo é bom, ágil, sempre tem
reviravoltas acontecendo e revelações sendo feitas. Só me
incomodaram alguns pequenos excessos de narrativa, como os
personagens mencionando até a forma como levantam da cama, que foram
escovar os dentes e até a ordem das peças de roupa que trocam. Mas
nada que atrapalhe o acompanhamento da trama.
O final
do livro traz um apêndice listando os personagens, lugares e termos
usados na trama, o que pode vir a ser útil numa história tão rica
em detalhes. (Embora eu não tenha me sentido perdida em momento
algum.) Essa edição ainda conta com ilustrações e ao final um
capítulo extra narrado por Judra que se encaixa bem no início da
trama, antes da personagem entrar na história. Além de uma prévia
de A Estrela dos Mortos, segundo volume da trilogia que deve
ser lançado ainda esse ano, que mostrou ser ainda mais promissor do
que o final deste primeiro volume já apontava que seria.
Em suma,
O Encantador de Flechas é um início envolvente e instigante
para uma saga igualmente promissora. A trilogia Supernova está
recomendada para aqueles fãs de ficção que procuram algo que tenha
o melhor de suas histórias favoritas e ainda seja algo novo.
Considerem aprovado.
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