sábado, 16 de maio de 2015

[Resenha] Argo

Nome: Argo
Autores: Antonio Mendez, Matt Baglio
Edição: 1/2012
Editora: Intrínseca
Páginas: 256

Sinopse: Em 4 de novembro de 1979, os funcionários da embaixada dos Estados Unidos em Teerã são surpreendidos pela invasão de um grupo de militantes, que faz 52 reféns. Em meio à confusão, seis diplomatas conseguem escapar e encontram refúgio na residência do embaixador do Canadá. Mas Tony Mendez, especialista em disfarces da CIA, sabe perfeitamente que é apenas uma questão de tempo até que sejam encontrados. Para retirá-los do país, ele concebe um plano muito arriscado, digno de cinema. Disfarçando-se de produtor de Hollywood e apoiado por um elenco de agentes secretos, falsificadores e especialistas em efeitos especiais, Mendez viaja para Teerã a pretexto de encontrar a locação perfeita para um falso filme de ficção científica chamado Argo. Neste livro, ele revela todos os detalhes da complexa operação que aliou o alto escalão de Hollywood ao mundo da espionagem.


Comentários:

Comprei esse livro em março de 2013, e ficou na minha estante desde então. Na época queria muito saber sobre essa história principalmente por ser real, mas depois de ler alguns comentários desanimei um pouco e o livro foi ficando, ficando e ficando. Mas nunca desisti totalmente de Argo e finalmente o li. Posso dizer que foi uma experiência interessante, mas com algumas ressalvas.

Em outubro de 1979 um grupo de militantes iranianos invadiu a embaixada americana em Teerã e fez cinquenta e duas pessoas de reféns por 444 dias. Seis diplomatas conseguiram escapar e se esconder na embaixada canadense, mas precisavam ser resgatados, pois se fossem descobertos pelo komiteh colocariam em risco também as vidas dos reféns na embaixada americana. Era um trabalho para a CIA, e precisava ser rápido.

Antonio Mendez, um dos especialistas em disfarce da agência naquela época, pensou que a melhor forma de fazer esse resgate era com um plano que soasse tão maluco que não poderia ser comprovado, ninguém imaginaria tratar-se de uma missão de extração. Foi então que teve a ideia de disfarçá-los como uma equipe de produção a procura de uma locação perfeita para um filme de ficção científica. Para formular esse plano contou com a ajuda de um amigo que era maquiador em Hollywood e do serviço secreto do Canadá.

Argo é um livro escrito a quatro mãos. Antonio Mendez relata em primeira pessoa como foi a montagem e execução do plano de resgate intercalando com experiências de sua vida pessoal e de espião que, de alguma forma, serviram de aprendizado para essa missão. Enquanto o jornalista investigativo, Matt Baglio, ficou responsável por pesquisar e remontar a situação do Irã na época, bem como entrevistar os seis diplomatas para relatar o que aconteceu com eles até que pudessem voltar pra casa, narrando tudo na terceira pessoa. Não é feita nenhuma distinção entre as narrativas, elas se mesclam até dentro dos capítulos e às vezes parecem confusas. Tanto trabalho de pesquisa e reunião de informações foi essencial para que a obra fosse completa e concisa, no entanto algumas coisas soaram avulsas e até desnecessárias.

Os autores usaram uma linguagem simples e fluida, facilitando muito a leitura. Ainda mais levando em conta a complexidade que um tema como esse pode trazer. Por outro lado, o fato de mesclar a Missão Argo com relatos de outras missões e acontecimentos da vida do Agente Mendez muitas vezes causaram distrações. Entendo que a intenção dele era mostrar como cada um daqueles momentos de alguma forma lhe trouxe um aprendizado que contribuiu para que essa missão fosse bem sucedida. Algumas coisas são interessantes de saber, como o relato de que conheceu seu amigo maquiador de Hollywood (uma das muitas pessoas a quem ele se refere por pseudônimos, por motivos de segurança) por causa de uma série em que este trabalhava e o procurou a fim de aperfeiçoar os disfarces da CIA. Bem como a menção ao fato de que a revolução cinematográfica na década de 1970 contribuiu para o sucesso da missão. Porém, alguns fatos como o de que seu avô trabalhou na construção do Grauman's Chinese Theatre em LA é totalmente irrelevante para o leitor, e faz o livro soar mais como autobiografia do que como o relato de um acontecimento específico. E até eu que não costumo ter problemas com disfunções temporais senti certa confusão com as idas e vindas de Mendez.

Os capítulos são medianos, mas confesso que em momentos de longos relatos eles pareceram intermináveis. A inserção de alguns diálogos e de alguns momentos corriqueiros, como o jantar de Ação de Graças que os diplomatas ganharam de seus anfitriões canadenses, ajudaram a tornar o conteúdo mais humano e crível. Penso que se o livro trouxesse apenas relatos e descrições acabaria soando mecânico e talvez fosse mais difícil de se envolver. Isso e o fato de descobrir um pouco mais sobre como a CIA realmente funciona, que a Agencia e Hollywood tem mais a ver do que imaginava, mantiveram meu interesse até o fim.

O resgate dos seis diplomatas foi retratado no telefilme Escape from Iran: The Canadian Carper, de 1981 dirigido por Lamont Johnson. E em 2012 no filme Argo, que foi produzido, dirigido e estrelado por Ben Affleck e ainda teve Bryan Cranston, Alan Arkin, John Goodman e Victor Garber no elenco. Ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Filme, e o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático e Melhor Diretor. Apesar de partilhar o nome desse livro o longa Argo não foi baseado nele, mas no primeiro livro de Mendez Master of Disguise (Mestre do Disfarce, em tradução livre), lançado em 1999 e ainda não publicado no Brasil e em um artigo publicado na revista Wired em 2007. O livro nasceu com a intenção de ser um relato escrito do que é visto no filme. Mas apesar de não ter assistido o longa ainda, sei que ele se atém a contar apenas sobre a Missão Argo e com isso não duvido que seja melhor que o livro.

Argo pode não ter sido uma leitura totalmente gratificante, mas considero longe de uma grande decepção como em muitos comentários que li. É o tipo de livro que você precisa ler sabendo o que vai encontrar, que no caso será uma autobiografia parcial e não apenas um exclusivo relato de um evento específico. Fiquei interessada o suficiente para ler outro livro de Antonio Mendez que possa ser publicado no Brasil, e espero que o primeiro ainda o seja. Recomendo para aqueles que se interessam por espionagem e política mundial.

4 comentários:

  1. Assim como você, eu também li vários comentários negativos sobre este livro. Antes eu já não tinha me interessado muito, e depois de ler os comentários, ai que descartei a leitura mesmo. Porém vi que sua opinião é um pouco diferente das outras. Achei um ponto bem positivo eles usarem uma escrita simples e fácil, pois já basta o tema ser bem complexo né hahaha
    Quase me perdi lendo só a sinopse (hahahah)


    Ótimo texto Gabi!
    www.booksever.com.br

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  2. GabrielaCeruttiZimmermann19 de maio de 2015 às 11:22

    Pois é, Filipe. O livro já exige uma boa atenção devido a complexidade do assunto e a ampla quantidade de pessoas envolvidas, mas a linguagem simples ajuda um bocado.


    Abraço!

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  3. Francielle Couto Santos21 de maio de 2015 às 09:10

    Gabi, suas observações foram muito pertinentes. Todo mundo precisa saber bem do que se trata a trama antes de se aventurar por ela. É um livro difícil e com características que não envolve todo tipo de leitor. Apesar disso, é um livro interessante, principalmente para os interessados na temática e/ou em biografias.

    Abraços,
    http://www.universoliterario.com.br/

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  4. GabrielaCeruttiZimmermann23 de maio de 2015 às 10:37

    Realmente não é um livro pra qualquer um, Fran. Até eu que tenho interesse pelo tema tive minhas dificuldades. Mas sim, é um livro interessante.


    Beijos!

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