segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

[Maratona de Vícios #09]: O Guia do Mochileiro das Galáxias


NÃO ENTRE EM PÂNICO.

Chegou a vez de falar sobre mais uma maratona literária, um grande ícone da cultura pop. Um hit imortal do mundo nerd que é adorado por todos. Sim, estou falando dele: O Guia do Mochileiro das Galáxias. A famosa trilogia de cinco livros, que era pra ser de quatro, mas acabou sendo de seis. Não entendeu? Sem problema, explicarei mais adiante.

O enredo tem várias linhas, mas geralmente segue o protagonista Arthur Dent. Um cidadão britânico comum que ao acordar em um belo dia descobre que sua casa será demolida para dar espaço a uma via expressa. Isso certamente seria muito grave se o Planeta Terra não estivesse pra ser destruído por vogons a fim de dar espaço para uma via expressa interestelar. Quem salva Arthur do fim do mundo é seu amigo betelgeusiano Ford Prefect, um redator do Guia que passou os últimos quinze anos na Terra fazendo pesquisa de campo. Mas claro que Arthur desconhecia esses detalhes. Na verdade, há muitas coisas que ele desconhece.

Logo se juntam a Zaphod Beeblebrox, semi-primo de Ford e Presidente da Galáxia, e Trillian, outra sobrevivente da Terra e que Arthur conheceu numa festa em Islington. E sem esquecer Marvin, o androide paranoide. Juntos e a bordo da Coração de Ouro, eles passam a viajar pelo universo enfrentando perigos para descobrir a resposta ao enigma fundamental. Ou melhor, a pergunta. Pois a resposta eles já tem. Se quiser saber que zark isso significa, vai ter que ler os livros.

Nota do Guia: Termos e expressões dos livros serão usados no post a fim de despertar curiosidade.

A história surgiu como um programa de rádio da BBC, idealizado por Douglas Adams em 1977 mas que só foi ao ar em 1978. O sucesso foi tanto que o autor foi persuadido a trazer essa louca aventura intergaláctica para o papel, e os cinco primeiros livros foram publicados entre 1979 e 1992. Depois ganhou adaptações teatrais, uma minissérie de TV (BBC, 1981), videogames, um filme (Touchstone Pictures, 2005) e até versões em toalhas. Todos seguem o mesmo enredo básico, intercalando as aventuras de nossos heróis com as notas do Guia. Que nunca são desnecessárias e nem afetam o ritmo da narrativa. A não ser no último livro. (Explicações mais adiante.)

Meu primeiro contato com Mochileiro foi em 2005, numa aula de inglês quando a Professora passou para a turma um pedaço do filme. E não vou negar, eu não tinha gostado. Achei confuso, e também eu era muito nova. O fato é que não tinha me interessado. Mas esse ano li algumas criticas e resenhas dos livros que despertaram minha curiosidade. Então resolvi me aventurar pela versão escrita, comprei toda a série original e foi amor à primeira página. Me apaixonei pelos personagens e Universo malucos construídos por Adams. Além, é claro, do seu humor ácido e críticas sociais, que conseguem ser sutis e severas ao mesmo tempo.

Douglas Adams usou da ficção científica e do sarcasmo para criar um Universo tão bizarro que só pode ser real. Aliás, universos que só podem ser reais. É tudo muito estranho, mas ao mesmo tempo muito parecido com o que vivemos. E apesar de geralmente levar para um lado engraçado, há algo bastante significativo nos textos. O tipo de coisa que você ri e pensa “Putz! É assim mesmo.”

A série de livros era pra originalmente ser composta por quatro livros (mesmo que muitos chamem de trilogia): O Guia do Mochileiro das Galáxias, O Restaurante no Fim do Universo, A Vida, o Universo e Tudo Mais e Adeus, e Obrigado pelos Peixes. Esses quatro livros foram publicados entre 1979 e 1984. Mas o fãs queriam mais, e tanto pediram que em 1992 Adams escreveu e publicou Praticamente Inofensiva. Esse seria o fim da série pela vontade de seu criador. E com a morte de Adams em 2004 pareceu que assim seria. Mas como o Universo não passa de uma mistureba generalizada onde nada é uma certeza absoluta, em 2006 o autor Eoin Colfer resolveu escrever um sexto volume: E Tem Outra Coisa... Mas não foi lá muito feliz.

Existem diferenças claras. Os livros de Adams são finos, mas com uma quantidade absurda de conteúdo. A narrativa é ágil, centenas de coisas acontecem um poucas páginas e ele consegue fazer você rir e refletir em um mesmo trecho naturalmente. Já o livro de Colfer é bem maior, mas com uma narrativa lenta e por vezes cansativa. As tentativas de imitar o humor de Adams são falhas e sua crítica social soa forçada e até repetitiva. E as notas do Guia que Adams sempre escreveu de forma que parecessem fazer parte da história, Colfer transformou em encheção de linguiça. Adams tem capítulos curtos, mas nunca com interrupções desnecessárias. Já os de Colfer são longos e cansativos. Não digo que o livro de Colfer é totalmente ruim e nem que queria que ele escrevesse como Adams, cada escritor tem seu estilo. Mas fez a essência se perder. Em resumo, Colfer fez uma jebalança com a história de Adams.

Enfim. Além dos livros, acabei de ver a minissérie de TV. Claro que deve-se dar um desconto aos efeitos devido à época, mas estragaram a Trillian e Marvin. E logo pretendo dar uma segunda chance ao filme. Pois agora que conheço a história e entendo, talvez eu goste dele. Até porque com Martin Freeman no papel Arthur, a tentativa vale super a pena.


A série foi trazida ao Brasil pela editora Brasiliense, mas as edições mais recentes encontradas são da editora Arqueiro. O Guia do Mochileiro das Galáxias é altamente recomendável para quem gosta de aventura e das incertezas do Universo. Além de boas metáforas feitas na base do sarcasmo. Se esse é o seu caso, pegue a sua toalha e embarque na próxima nave. Mas nunca se esqueça de tomar cuidado com os vogons e sempre seguir o lema do Guia: Não entre em pânico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário