sexta-feira, 1 de maio de 2015

[Resenha] A Vida em Tons de Cinza


Título: A Vida em Tons de Cinza
Título Original: Between Shades of Gray
Autora: Ruta Sepetys
Tradução: Fernanda Abreu
Editora: Arqueiro
Ano: 2011
Número de páginas: 240

Sinopse: 1941. A União Soviética anexa os países bálticos. Desde então, a história de horror vivida por aqueles povos raras vezes foi contada. Aos 15 anos, Lina Vilkas vê seu sonho de estudar artes e sua liberdade serem brutalmente ceifados. Filha de um professor universitário lituano, ela é deportada com a mãe e o irmão para um campo de trabalho forçado na Sibéria. Lá, passam fome, enfrentam doenças, são humilhados e violentados. Mas a família de Lina se mostra mais forte do que tudo isso. Sua mãe, que sabe falar russo, se revela uma grande líder, sempre demonstrando uma infinita compaixão por todos e conseguindo fazer com que as pessoas trabalhem em equipe. No entanto, aquele ainda não seria seu destino final. Mais tarde, Lina e sua família, assim como muitas outras pessoas com quem estabeleceram laços estreitos, são mandadas, literalmente, para o fim do mundo: um lugar perdido no Círculo Polar Ártico, onde o frio é implacável, a noite dura 180 dias e o amor e a esperança talvez não sejam suficientes para mantê-los vivos. A vida em tons de cinza conta, a partir da visão de poucos personagens, a dura realidade enfrentada por milhões de pessoas durante o domínio de Stalin. Ruta Sepetys revela a história de um povo que foi anulado e que, por 50 anos, teve que se manter em silêncio, sob a ameaça de terríveis represálias.

Comentários

Já tive a oportunidade de falar na postagem sobre a adaptação para as telonas do livro "A Menina que Roubava Livros" sobre minha paixão por assuntos de guerra e livros que tratam sobre, principalmente, o período vivido pela humanidade durante a 2ª Guerra Mundial. Em "A Vida em Tons de Cinza" não foi diferente. Me apaixonei no momento que li a sinopse e soube do que se tratava o livro. A paixão aumentou em cada página virada, cada palavra lida, cada parágrafo que, diversas vezes, me levou a refletir sobre o período de guerra vivenciado pelos países bálticos.

Se em "A Menina que Roubava Livros" Markus Zusak contou a história da pequena Liesel e a vida de sua família na Alemanha nazista, Ruta Sepetys conta no livro a vida de Lina Vilkas e sua família quando foram deportados pela União Soviética de seus países. 

História narrada em primeira pessoa, Lina nos leva a viajar junto com ela, sua mãe (Elena) e seu irmão (Jonas) em um trem lotado de outros lituanos. Os horrores da guerra começam já em poucas páginas lidas. A família Vilkas passa por bons bocados. Sofrem, passam fome. E ainda são obrigados a suportarem os maus tratos ocasionados pela NKVD (polícia soviética que, segundo o livro, é o início da extinta KGB).

Seu pai, Kostas Vilkas é reitor da universidade na capital da Lituânia. Inicialmente este parece ser o motivo da família de Lina ter sido deportada. Porém, no decorrer da leitura, percebe-se que aconteceram muito mais coisas que culminaram para o destino de Lina no Polo Norte, com sua mãe e seu irmão.

A viagem num trem de carga, onde foram classificados como ladões e prostitutas, Lina e sua família passam exatos 440 dias desde a saída de sua casa em Kaunas (Lituânia) até chegar em Trofimovsk (Polo Norte). Foram 240 páginas que me fizeram emocionar. 240 páginas que me fizeram viajar entre flashback, um campo de trabalhos forçados, a descrição de um frio insuportável, um natal que, apesar da situação, encheu de esperança as pessoas que ali se encontravam na mesma situação. Assim como é impossível não se emocionar com a leitura, é também impossível não se emocionar quando se escreve sobre ela. Como diz a autora, "uma história de guerra quase nunca contada...". Sim, pois quando se fala em II Guerra, logo seu pensamento é direcionado ao holocausto causado por Hitler e nunca, ou quase nunca, é pensado ou lembrado do outro lado da história.

Mas tudo não foi somente tragédia e sofrimento. Apesar das situações, Lina encontrou um grande amor e encontrou esperança por intermédio daqueles que ajudavam. Sua história, a história do povo massacrado pelo regime de Stalin, é uma história que deve ser lida e conhecida.

"Durante aqueles períodos de silêncio, eu me agarrava em meus velhos sonhos. Era sob a mira de uma arma que eu abraçava todas as esperanças e me permitia desejar do fundo do coração. Komorov acreditava estar nos torturando. Mas fugíamos para a imobilidade bem dentro de nós. Ali encontrávamos força." (página 119)

Outros momentos, como disse do amor que nasceu entre Lina e Andrius foram os pontos mais emocionantes do livro. Um amor verdadeiro e puro. Confesso que numa determinada parte do livro as lágrimas encheram os olhos. Você não sabia o destino dos dois.

"Encostei minhas luvas em suas bochechas. Puxei seu rosto em direção ao meu e o beijei. Seu nariz estava gelado. Seus lábios estavam mornos e sua pele tinha um cheiro limpo. Senti um frio na barriga. Recuei, olhando seu rosto bonito, e tentei me lembrar de como fazia pra respirar." (página 162)

Mas não podia deixar de falar da capa e da diagramação do livro. A capa é super convidativa e relaciona o tema abordado. Com certeza, numa estante em uma livraria qualquer, a capa me chamaria a atenção. A diagramação é simples. Os capítulos são pequenos e adorei como foi destacado os flashbacks entre os acontecimentos atuais.

Assim, aproveito pra falar que a Ruta Sepetys foi sensacional nesse livro. Se você ainda está considerando se vai ler ou não, não perca tempo. Eu perdi e me arrependi. Pois ganhei o livro em fevereiro no meu aniversário e por conta da fila de livros e da faculdade, não pude aproveitar essa leitura maravilhosa. Se você ainda não conhecia, é uma boa leitura. Por fim, vou deixar o último trecho antes do epílogo do livro. Um trecho que, depois de meses de escuridão, traz o sol e a esperança de um amanhã melhor.

"Saí da jurta para ir cortar lenha. Comecei a minha caminhada pela neve, 5 quilômetros até o limite das árvores. Foi então que vi. Uma fina nesga dourada surgiu em meio à escuridão cinza do horizonte. Fiquei olhando para aquela faixa de luz âmbar com um sorriso no rosto. O Sol tinha voltado." (página 235)

Notas da autora

"Em 1939, a União Soviética ocupou os países bálticos [...]. Médicos, advogados, professores, militares, escritores, empresários, músicos, artistas e até mesmo bibliotecários foram destinados ao genocídio. As primeiras deportações aconteceram em 14 de junho de 1941.
[...]
Fiz duas viagens à Lituânia para realizar pesquisas para este livro. Encontrei-me com parentes, sobreviventes dos gulags, psicólogos, historiadores e funcionários do governo. Muitos acontecimentos e situações descritos nesta história foram relatados por sobreviventes e suas famílias, experiências compartilhadas por muitos deportados espalhados pela Sibéria. Embora os personagens sejam fictícios, o Dr. Samodurov é real. Ele chegou ao Ártico a tempo de salvar muitas vidas.
Aqueles que sobreviveram passaram de 10 a 15 anos na Sibéria. [...] Eles tinham perdido tudo. Aqueles que voltaram foram tradados como criminosos. Forçados a morar em áreas restritas, viviam em constante vigilância da KGB, antiga NKVD. Falar sobre sua experiência significava prisão iminente ou uma nova deportação para Sibéria.
[...]
Estima-se que Josef Stalin tenha matado mais de 20 milhões de pessoas durante seu reinado de terror.
[...]
Há guerras feitas de bombardeios. Para os povos bálticos, essa guerra foi feita de crenças. Em 1991, após 50 anos de uma ocupação brutal, os três países reconquistaram sua independência, com paz e dignidade.
[...]"

Fazendo uma pequena pesquisa sobre o livro, tive o prazer de encontrar um vídeo no qual a própria autora fala sobre o livro e a história retratada por ele. Clique aqui. Vale a pena conferir!

6 comentários:

  1. Oi! Não conhecia o livro, achei muito interessante. A capa é mesmo muito bonita e ao mesmo tempo simples, chama muito a atenção. :)
    Ótima resenha, deve ser uma estória muito triste mas linda, adorei os trechos que você separou. Vou colocar na lista!
    Gostei muito do blog, estou seguindo e desejo muito sucesso a vocês!
    beijos ♥
    nuclear--story.blogspot.com

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  2. Oi, Ítalo!
    Adorei a resenha, muito completa! Pelo que você descreveu, a estória parece ser bem forte e emocionante. Fiquei muito a fim de ler.
    Beijo!

    http://penny-lane-blog.blogspot.com.br/

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  3. Francielle Couto Santos15 de maio de 2015 às 19:58

    Ítalo, sua resenha me fez querer reler este livro. A autora teve uma sensibilidade incomum em suas palavras... obra extremamente tocante e densa, uma dose certa para quem curte a temática. Um dos meus favoritos, com toda a certeza. Amei o post... e poder relembrar, claro.

    Abraços,
    Francielle
    www.universoliterario.com.br

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  4. OI Francielle...


    Que bom que você relembrou do livro... Ele se tornou um dos meus favoritos também!


    Abraços!

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  5. Oi Penny,


    Sim, realmente é bem forte e emocionante. Carregadas de emoções e isso deu um toque especial ao livro. Leia, você não vai se arrepender.


    Abraços!

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  6. Oi Daniela,


    É muito linda a estória do livro... vale a pena ler e conferir mais desse outro lado da Segunda Guerra Mundial.


    Abraços!

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