O poder
de viver pelas palavras.
Há
alguns anos vi o filme Coração de Tinta com Brendan Fraser,
e gostei tanto que desde então fiquei com vontade de ler o livro –
na época não sábia das sequências. Depois vi alguns comentários
de que a adaptação tinha tantas modificações e que não fazia jus
ao original, mas ao invés de desanimar da leitura por receio de
passar a desgostar do filme fiquei ainda mais curiosa. Acabei
comprando a trilogia Mundo de Tinta na Black Friday do
ano passado, mas só pude ler agora. Não posso fazer comparações
pois faz muito tempo que assisti o filme, só sei dizer que há algum
tempo não tinha essa sensação de ler algo realmente diferente.
Imagine
que você poderia dar vida a personagens de seus livros favoritos
apenas por lê-los em voz alta. Ou ainda entrar no mundo daquele
livro. Pois em Mundo de Tinta descobrimos que algumas pessoas
– chamadas Línguas Encantadas – possuem esse dom, que as vezes
também pode ser uma maldição. Principalmente se você não
conhecer bem os segredos de seu poder e acabar trazendo para fora do
livro o grande vilão, ou mandando para dentro dele a pessoa que você
ama. E este é apenas o ponto de partida dessa história.
O
encadernador Mortimer (Mo para os íntimos) e sua filha Meggie viviam
tranquilamente em sua fazenda, viajando de vez em quando para salvar
a vida de alguns livros antigos em bibliotecas, coleções
particulares e sebos. Até que em certa noite tudo muda quando
recebem a misteriosa visita de Dedo Empoeirado, e Meggie começa a
descobrir alguns segredos e entender algumas coisas. Ela descobre que
há nove anos seu pai tirou Dedo Empoeirado de um livro chamado
Coração de Tinta, junto com o vilão Capricórnio e seu
capanga Basta. Mas por acidente sua esposa Resa e os dois gatos da
família foram em troca. Por isso, apesar de amar os livros, Mo nunca
lera histórias para a filha. Só que agora eles precisam impedir que
Capricórnio conclua seus terríveis planos.
Aventura,
humor e romance são três ingredientes principais dessa história.
Uma história que gira em torno de outra história, ou de muitas. E
no fim se tornam uma só. Há sempre o que ser desbravado, tentado.
Pois o que começa com o simples propósito – embora seja algo
bastante complicado – de impedir Capricórnio termina com uma
batalha para salvar todo o Mundo de Tinta, nome dado ao lugar da
trama do livro em torno do qual gira essa história. Algumas lutas
são ganhas, outras perdidas. São feitas incríveis jornadas, seja
entre lugares, entre mundos ou de crescimento pessoal. Sempre nos
dando algo sobre o qual pensar a respeito.
E nessa
tarefa os personagens criados por Funke são mestres. Eles são
capazes de provocar mesclas de sentimentos durante a leitura, como
aquelas pessoas que você adora mas que possuem atitudes que te
irritam. Mo e Meggie são bons exemplos, pois mesmo sendo adoráveis
na maior parte do tempo – principalmente quando estão juntos –
dão uma grande vontade de gritar com eles quando ficam cheios de
receios. Assim como Dedo Empoeirado e Fenóglio, autor de Coração
de Tinta que se torna parte fundamental da história, que possuem
características brilhantes mas por vezes tem atitudes incômodas. Já
a tia-avó de Meggie, Elinor, e o Príncipe Negro com seu urso são
sempre ótimos. E preciso confessar que Elinor com sua impertinência
e relação com os livros foi minha personagem favorita. Agora, os
vilões... São terríveis, no sentido que todo vilão deve ser. Pois
mesmo quando parte do seu passado é revelado você até entende suas
atitudes mas não pode perdoá-los, porque eles poderiam ter feito
outras escolhas.
Devo
dizer que o universo que a autora criou para seu Mundo
de Tinta é simplesmente fascinante. Algo que talvez possa ser
definido como uma perfeita mistura entre contos de fadas e fantasia
épica. Suas paisagens, criaturas e histórico são incríveis.
Porque assim como a trama do livro está sempre se expandindo, com
algo novo a ser explorado. Em certo momento é mencionado que “a
história de um livro não começa na primeira frase e não termina
na última”, o que é exatamente o caso aqui. Isso também pode
ser visto como uma metáfora para nossa própria história, já que
ela não começa no momento em que nascemos e nem termina quando
morremos. E há muitas belas metáforas e simbologias como essa. Uma
das principais lições é de que não construímos nossa história
sozinhos, da mesma forma que ajudamos a construir a do próximo.
Preciso
declarar que fiquei completamente apaixonada pela narrativa de
Cornelia Funke. A mulher tem uma escrita tão fluida e envolvente que
mesmo com uma fonte 8 fui capaz de ler de 80 a 90 páginas de uma só
vez na maioria das sessões. Ela consegue inserir frases nostálgicas
e inspiradoras nos diálogos e narrativa de forma natural. Conta a
história na terceira pessoa em capítulos curtos, sempre variando o
ponto de vista e explorando ao máximo as emoções e intenções do
personagem da vez. Ainda fez um belo trabalho de pesquisa para
introduzir curiosidades e detalhes sobre a história do livro e
profissões que o envolvem, é impossível não ficar com vontade de
seguir o ofício de encadernador. Funke também teve a genialidade de
colocar uma citação ou trecho de alguma obra no início de cada
capítulo e uma delicada ilustração no final de quase todos. E a
Editora Seguinte fez um trabalho primoroso na edição, da
capa ao material e revisão ao espaçamento. Fazendo jus à obra.
Algo que merece destaque na estante.
A
trilogia é formada pelos livros Coração de Tinta, Sangue
de Tinta e Morte de Tinta. Ano passado ainda saiu o e-book
Mundo de Tinta – Contos. São três contos, dois que se
passam depois do encerramento da história e um antes dela começar.
Alguns pontos foram esclarecidos, coisas que nem indaguei durante a
leitura foram contadas e portas para possíveis continuações ou
spin offs foram abertas. Como disse, o universo e seres criados pela
autora são tão ricos que sempre existe algo a ser explorado.
Digamos que o Mundo de Tinta é para Cornelia Funke o que a Terra
Média é para J R R Tolkien. Há uma mitologia incrível que sempre
mostra algo a ser desvendado e um desafio a ser vencido.
Creio que
pode-se dizer que a trilogia Mundo de Tinta é perfeita para
todos aqueles que são amantes dos livros. Tanto por sua rica
história cheia de reviravoltas para o bem e para o mal quanto por
suas belas analogias. Foi uma leitura encantadora e gratificante, uma
experiência que pretendo repetir e recomendo. Cornelia Funke já
entrou pro meu hall de escritores favoritos e certamente lerei
quantas obras suas puder. E se ela voltar a desbravar seu Mundo de
Tinta, não irei reclamar.
Ei Gabi,
ResponderExcluirSabe, quando um autor encerra uma série ou trilogia e ainda estamos sedentos por mais, é um excelente sinal para medirmos o quanto gostamos da história. Os elementos também me chamam a atenção: amor por livros + fantasia. Personagens apaixonantes e vilões bem do mal? Óbvio que tenho quer ler! Já queria conhecer essa autora e seu texto aumentou mais ainda essa vontade.
Abraços!!!
Ahhh, Gabi, que lindo! Eu sempre morri de vontade de ler Coração de Tinta porque sempre ouvi falar muito bem do livro, mas na hora de comprar livros esse sempre ia ficando de lado, sabe? Eu sempre me esquecia dele porque surgia outro novo e tal... Eu nem sabia que existia uma trilogia!
ResponderExcluirFiquei com mais vontade de ler ainda depois da sua resenha! E agora vou focar nele hauhauha Não vou deixar passar.
Ahhhh, a propósito, estou lendo A Culpa é Das Estrelas por causa da sua resenha hauhaua. Uma amiga minha me disse que a Hazel é muito parecida comigo, o que eu adorei porque eu achei ela legal hauahuhaha.
Beijão!!
http://penny-lane-blog.blogspot.com.br/
Tem razão, Jeferson. Além disso, ajuda muito quando o autor cria seu próprio lugar pois dá a sensação de que a história sempre pode continuar. Quero muito ler outras obras da Cornelia e creio que você também vai gostar. :)
ResponderExcluirAbraço!
Sei como é, Maiti. Faço isso com alguns livros também. [rs] Bom saber que a resenha te deu mais vontade ler, espero que você goste (e acho que vai) pois a história é puro amorzinho. ^^
ResponderExcluirAdorei saber que está lendo A Culpa é Das Estrelas por causa da minha resenha e que está gostando. Hazel é uma querida. [rs]
Beijos!
Gabi eu acho essas capas incríveis, e elas me chamam a total atenção.
ResponderExcluirEu não fazia ideia do que se tratava os livros até ler agora, e fiquei surpreso por saber que é um misto de humor, aventura e romance (eu imaginava que era um romance água com açucar).
Enfim, vou ficar na esperança de um dia conseguir essas edições incríveis!
www.booksever.blogspot.com
Essas capas são lindas mesmo, Filipe. Melhores até que as originais alemãs. Jura que pensava que era romance água com açúcar? Na verdade é um desses infanto-juvenis para todas as idades, recomendo mesmo.
ResponderExcluirAbraço!
Gabi, eu tenho alguns problemas com o gênero dessa trilogia... fantasia não é o meu forte, e eu raramente me sinto presa, ou apaixonada. Mas, ao mesmo tempo, eu sou LOUCA para conferir essa história. Sempre ouço falar bem... acho que tenho que me sentir bem comigo mesma, ou me sentir preparada para encarar a leitura e nada dá errado (além de ter os livros em mãos, claro... ahahahahaha). Muito boa a resenha. Pelas suas palavras, não irá sair da sua cabeça tão cedo...
ResponderExcluirAbraços,
universoliterario.blogspot.com
Pois é, Fran, sei que você não é muito fã de fantasia. Mas pende muito pros contos de fadas, que sei que você gosta. Enfim, é uma coisa que só você poderá avaliar. Eu amei e realmente não esquecerei tão cedo. Fico feliz que tenha gostado da resenha. :)
ResponderExcluirAbraço!