domingo, 9 de novembro de 2014

[Mega Resenha] Trilogia Mundo de Tinta


O poder de viver pelas palavras.

Há alguns anos vi o filme Coração de Tinta com Brendan Fraser, e gostei tanto que desde então fiquei com vontade de ler o livro – na época não sábia das sequências. Depois vi alguns comentários de que a adaptação tinha tantas modificações e que não fazia jus ao original, mas ao invés de desanimar da leitura por receio de passar a desgostar do filme fiquei ainda mais curiosa. Acabei comprando a trilogia Mundo de Tinta na Black Friday do ano passado, mas só pude ler agora. Não posso fazer comparações pois faz muito tempo que assisti o filme, só sei dizer que há algum tempo não tinha essa sensação de ler algo realmente diferente.

Imagine que você poderia dar vida a personagens de seus livros favoritos apenas por lê-los em voz alta. Ou ainda entrar no mundo daquele livro. Pois em Mundo de Tinta descobrimos que algumas pessoas – chamadas Línguas Encantadas – possuem esse dom, que as vezes também pode ser uma maldição. Principalmente se você não conhecer bem os segredos de seu poder e acabar trazendo para fora do livro o grande vilão, ou mandando para dentro dele a pessoa que você ama. E este é apenas o ponto de partida dessa história.

O encadernador Mortimer (Mo para os íntimos) e sua filha Meggie viviam tranquilamente em sua fazenda, viajando de vez em quando para salvar a vida de alguns livros antigos em bibliotecas, coleções particulares e sebos. Até que em certa noite tudo muda quando recebem a misteriosa visita de Dedo Empoeirado, e Meggie começa a descobrir alguns segredos e entender algumas coisas. Ela descobre que há nove anos seu pai tirou Dedo Empoeirado de um livro chamado Coração de Tinta, junto com o vilão Capricórnio e seu capanga Basta. Mas por acidente sua esposa Resa e os dois gatos da família foram em troca. Por isso, apesar de amar os livros, Mo nunca lera histórias para a filha. Só que agora eles precisam impedir que Capricórnio conclua seus terríveis planos.

Aventura, humor e romance são três ingredientes principais dessa história. Uma história que gira em torno de outra história, ou de muitas. E no fim se tornam uma só. Há sempre o que ser desbravado, tentado. Pois o que começa com o simples propósito – embora seja algo bastante complicado – de impedir Capricórnio termina com uma batalha para salvar todo o Mundo de Tinta, nome dado ao lugar da trama do livro em torno do qual gira essa história. Algumas lutas são ganhas, outras perdidas. São feitas incríveis jornadas, seja entre lugares, entre mundos ou de crescimento pessoal. Sempre nos dando algo sobre o qual pensar a respeito.

E nessa tarefa os personagens criados por Funke são mestres. Eles são capazes de provocar mesclas de sentimentos durante a leitura, como aquelas pessoas que você adora mas que possuem atitudes que te irritam. Mo e Meggie são bons exemplos, pois mesmo sendo adoráveis na maior parte do tempo – principalmente quando estão juntos – dão uma grande vontade de gritar com eles quando ficam cheios de receios. Assim como Dedo Empoeirado e Fenóglio, autor de Coração de Tinta que se torna parte fundamental da história, que possuem características brilhantes mas por vezes tem atitudes incômodas. Já a tia-avó de Meggie, Elinor, e o Príncipe Negro com seu urso são sempre ótimos. E preciso confessar que Elinor com sua impertinência e relação com os livros foi minha personagem favorita. Agora, os vilões... São terríveis, no sentido que todo vilão deve ser. Pois mesmo quando parte do seu passado é revelado você até entende suas atitudes mas não pode perdoá-los, porque eles poderiam ter feito outras escolhas.

Devo dizer que o universo que a autora criou para seu Mundo de Tinta é simplesmente fascinante. Algo que talvez possa ser definido como uma perfeita mistura entre contos de fadas e fantasia épica. Suas paisagens, criaturas e histórico são incríveis. Porque assim como a trama do livro está sempre se expandindo, com algo novo a ser explorado. Em certo momento é mencionado que “a história de um livro não começa na primeira frase e não termina na última”, o que é exatamente o caso aqui. Isso também pode ser visto como uma metáfora para nossa própria história, já que ela não começa no momento em que nascemos e nem termina quando morremos. E há muitas belas metáforas e simbologias como essa. Uma das principais lições é de que não construímos nossa história sozinhos, da mesma forma que ajudamos a construir a do próximo.

Preciso declarar que fiquei completamente apaixonada pela narrativa de Cornelia Funke. A mulher tem uma escrita tão fluida e envolvente que mesmo com uma fonte 8 fui capaz de ler de 80 a 90 páginas de uma só vez na maioria das sessões. Ela consegue inserir frases nostálgicas e inspiradoras nos diálogos e narrativa de forma natural. Conta a história na terceira pessoa em capítulos curtos, sempre variando o ponto de vista e explorando ao máximo as emoções e intenções do personagem da vez. Ainda fez um belo trabalho de pesquisa para introduzir curiosidades e detalhes sobre a história do livro e profissões que o envolvem, é impossível não ficar com vontade de seguir o ofício de encadernador. Funke também teve a genialidade de colocar uma citação ou trecho de alguma obra no início de cada capítulo e uma delicada ilustração no final de quase todos. E a Editora Seguinte fez um trabalho primoroso na edição, da capa ao material e revisão ao espaçamento. Fazendo jus à obra. Algo que merece destaque na estante.

A trilogia é formada pelos livros Coração de Tinta, Sangue de Tinta e Morte de Tinta. Ano passado ainda saiu o e-book Mundo de Tinta – Contos. São três contos, dois que se passam depois do encerramento da história e um antes dela começar. Alguns pontos foram esclarecidos, coisas que nem indaguei durante a leitura foram contadas e portas para possíveis continuações ou spin offs foram abertas. Como disse, o universo e seres criados pela autora são tão ricos que sempre existe algo a ser explorado. Digamos que o Mundo de Tinta é para Cornelia Funke o que a Terra Média é para J R R Tolkien. Há uma mitologia incrível que sempre mostra algo a ser desvendado e um desafio a ser vencido.

Creio que pode-se dizer que a trilogia Mundo de Tinta é perfeita para todos aqueles que são amantes dos livros. Tanto por sua rica história cheia de reviravoltas para o bem e para o mal quanto por suas belas analogias. Foi uma leitura encantadora e gratificante, uma experiência que pretendo repetir e recomendo. Cornelia Funke já entrou pro meu hall de escritores favoritos e certamente lerei quantas obras suas puder. E se ela voltar a desbravar seu Mundo de Tinta, não irei reclamar.

8 comentários:

  1. Ei Gabi,


    Sabe, quando um autor encerra uma série ou trilogia e ainda estamos sedentos por mais, é um excelente sinal para medirmos o quanto gostamos da história. Os elementos também me chamam a atenção: amor por livros + fantasia. Personagens apaixonantes e vilões bem do mal? Óbvio que tenho quer ler! Já queria conhecer essa autora e seu texto aumentou mais ainda essa vontade.


    Abraços!!!

    ResponderExcluir
  2. Ahhh, Gabi, que lindo! Eu sempre morri de vontade de ler Coração de Tinta porque sempre ouvi falar muito bem do livro, mas na hora de comprar livros esse sempre ia ficando de lado, sabe? Eu sempre me esquecia dele porque surgia outro novo e tal... Eu nem sabia que existia uma trilogia!
    Fiquei com mais vontade de ler ainda depois da sua resenha! E agora vou focar nele hauhauha Não vou deixar passar.
    Ahhhh, a propósito, estou lendo A Culpa é Das Estrelas por causa da sua resenha hauhaua. Uma amiga minha me disse que a Hazel é muito parecida comigo, o que eu adorei porque eu achei ela legal hauahuhaha.
    Beijão!!

    http://penny-lane-blog.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  3. GabrielaCeruttiZimmermann10 de novembro de 2014 às 17:48

    Tem razão, Jeferson. Além disso, ajuda muito quando o autor cria seu próprio lugar pois dá a sensação de que a história sempre pode continuar. Quero muito ler outras obras da Cornelia e creio que você também vai gostar. :)


    Abraço!

    ResponderExcluir
  4. GabrielaCeruttiZimmermann10 de novembro de 2014 às 17:59

    Sei como é, Maiti. Faço isso com alguns livros também. [rs] Bom saber que a resenha te deu mais vontade ler, espero que você goste (e acho que vai) pois a história é puro amorzinho. ^^
    Adorei saber que está lendo A Culpa é Das Estrelas por causa da minha resenha e que está gostando. Hazel é uma querida. [rs]


    Beijos!

    ResponderExcluir
  5. Gabi eu acho essas capas incríveis, e elas me chamam a total atenção.
    Eu não fazia ideia do que se tratava os livros até ler agora, e fiquei surpreso por saber que é um misto de humor, aventura e romance (eu imaginava que era um romance água com açucar).
    Enfim, vou ficar na esperança de um dia conseguir essas edições incríveis!


    www.booksever.blogspot.com

    ResponderExcluir
  6. GabrielaCeruttiZimmermann13 de novembro de 2014 às 19:01

    Essas capas são lindas mesmo, Filipe. Melhores até que as originais alemãs. Jura que pensava que era romance água com açúcar? Na verdade é um desses infanto-juvenis para todas as idades, recomendo mesmo.


    Abraço!

    ResponderExcluir
  7. Francielle Couto Santos15 de novembro de 2014 às 20:53

    Gabi, eu tenho alguns problemas com o gênero dessa trilogia... fantasia não é o meu forte, e eu raramente me sinto presa, ou apaixonada. Mas, ao mesmo tempo, eu sou LOUCA para conferir essa história. Sempre ouço falar bem... acho que tenho que me sentir bem comigo mesma, ou me sentir preparada para encarar a leitura e nada dá errado (além de ter os livros em mãos, claro... ahahahahaha). Muito boa a resenha. Pelas suas palavras, não irá sair da sua cabeça tão cedo...

    Abraços,
    universoliterario.blogspot.com

    ResponderExcluir
  8. GabrielaCeruttiZimmermann16 de novembro de 2014 às 11:35

    Pois é, Fran, sei que você não é muito fã de fantasia. Mas pende muito pros contos de fadas, que sei que você gosta. Enfim, é uma coisa que só você poderá avaliar. Eu amei e realmente não esquecerei tão cedo. Fico feliz que tenha gostado da resenha. :)


    Abraço!

    ResponderExcluir