quarta-feira, 3 de junho de 2015

[Resenha] As Aventuras de Pi

Nome: As Aventuras de Pi
Autor: Yann Martel
Edição: 1/2012
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 376

Sinopse: Um dos romances mais importantes do século, As aventuras de Pi é uma narrativa singular de Yann Martel que se tornou um grande best-seller. O livro narra a trajetória do jovem Pi Patel, um garoto cuja vida é revirada quando seu pai, dono de um zoológico na Índia, decide embarcar em um navio rumo ao Canadá. Durante a viagem, um trágico naufrágio deixa o menino à deriva em um bote, na companhia insólita de um tigre-de-bengala, um orangotango, uma zebra e uma hiena. A luta de Pi pela sobrevivência ao lado de animais perigosos e sobre um imenso oceano é de uma força poucas vezes vista na literatura mundial.






Comentários:

Tento evitar o máximo possível conferir alguma adaptação antes do original, mas em muitas ocasiões não há outra escolha. Todavia, em algumas dessas ocasiões a adaptação é tão empolgante que impele ainda mais a conferir a obra na qual é baseada. Foi o meu caso com As Aventuras de Pi, só que o resultado não foi bem do esperado.

A sinopse apesar de bem curta apresenta a trama de forma bem concisa e eficiente. Acompanhamos a vida de Pi Patel, um garoto indiano que cresceu no zoológico da família. Vemos como ele optou por ter três religiões bem distintas (hindu, cristã e islâmica) e como isso lhe confere uma visão bem peculiar sobre a vida e o mundo. O vemos crescer e tentar se mudar com a família para o Canadá na adolescência, quando, durante uma tempestade, o navio em que estavam afunda e ele acaba em um bote salva-vidas com alguns dos animais que foram vendidos. E como Pi passou mais de duzentos dias com um tigre.

O modo como a história nos é contada traz um bom diferencial. Um escritor procura por uma história para seu novo livro e enquanto viaja pela Índia encontra um homem que o manda procurar por Pi, e ele teria uma história que o faria acreditar em Deus. Dessa forma, os capítulos narrados na primeira pessoa vão intercalando as vozes desses dois personagens, Pi contando sua odisseia e o escritor relatando suas impressões. O escritor não é nomeado em momento algum e possui pouquíssimos capítulos, a maior parte deles no início, o que confere certa veracidade à trama. No entanto, apesar de achar a ideia genial, reconheço que não funcionou muito bem.

Creio que o livro peca pelo excesso de detalhes. Gosto de detalhes, penso que ajudam a deixar o enredo crível e orgânico. Mas precisam ser na medida certa. Pense numa jaula de um animal qualquer sendo descrita nos mínimos detalhes. Ou uma casa com toda a sua decoração, artefatos de três religiões e livros. Ou ainda pescar, sangrar e comer uma tartaruga marinha. Confesso que o que não me entediava me causava certa repulsa.

O que também pode dificultar o envolvimento com a leitura é a pouca quantidade de diálogos. O livro é narrado quase como uma (auto)biografia, e é normal que nesse gênero a quantidade de diálogos seja escassa ou até mesmo nula. Além de que Pi não é exatamente cativante e chega a ser um pouco chato. Confesso que gostei de algumas frases e como tenho uma perspectiva um tanto aberta a respeito de religião chego a me identificar um pouco com o fato do personagem ter três. Mas sinto que a única coisa que contribuiu para que a leitura não se arrastasse a passos de tartaruga foi a capitulação curta, pouquíssimos capítulos ultrapassam seis páginas e muitos nem chegam a isso, e a divisão da trama é em três partes.

O fato de eu ter gostado de algumas frases não significa que concordo com tudo que o protagonista diga. Partilho de muitas das opiniões expressas sobre religião e crença, mas quando se trata dos animais a coisa muda um pouco. Claro que não estudei zoologia como o personagem, e pela quantidade de informações minuciosas creio que Martel tenha feito muitas pesquisas a respeito. Concordo que alguns animais se adaptam melhor a presença de humanos (por isso existem os que são e os que não são domesticáveis), que nenhum animal machuca um humano por pura maldade (ao contrário do que muitos humanos fazem) e coisas do tipo. Mas dizer que animais vivem melhor em zoológicos que em seus habitats naturais? Alto lá! Tudo bem que não precisam ir atrás de comida, são vacinados e tem suas doenças tratadas entre outras coisas, mas ainda penso que não há lugar melhor que a natureza. As vezes penso que foi erro até para o homem ter saído dela.

As Aventuras de Pi foi adaptado para cinema em 2012. Trouxe Gérard Depardieu no elenco e rendeu o Oscar de Melhor Diretor para Ang Lee, faturando ainda os prêmios de Melhor Fotografia, Melhores Efeitos Visuais e Melhor Trilha Sonora. O filme foi bem fiel em muitos aspectos, até trazendo o personagem do escritor entrevistando um Pi já adulto. Mas confesso que a obra funcionou muito melhor em sua forma audiovisual do que literária. Talvez porque nas cenas o excesso abusivo de detalhes não incomode. Ou até porque conseguiram transformar Pi em um personagem mais agradável.

O livro foi escrito em 2001 e foi publicado no Brasil pela primeira vez em 2004 através da Editora Rocco sob o título A Vida de Pi. Em 2010 já pelas mãos da Nova Fronteira ganhou uma nova edição com o mesmo nome para em 2012 ser relançado com a capa e o título que o filme ganhou em nosso país. Houve certa polêmica se Yann Martel teria plagiado a obra Max e os Felinos do brasileiro Moacyr Scliar. Mais tarde ele confessou ter se baseado na ideia mas que as histórias são bem diferentes. Basta conferir as sinopses para constatar esse fato, mas ainda quero conferir o outro para tirar minhas conclusões.

As Aventuras de Pi é uma história sobre sobrevivência, esperança e fé que certamente traz muitas lições válidas. Apesar de indicar o filme de olhos fechados, infelizmente não posso dizer o mesmo a respeito do livro.

3 comentários:

  1. Gosteiy muito desta história. Valeu Gabriela. beijos da mãe.

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  2. Oi Gabi,
    Esse foi o primeiro ebook que comprei e abandonei logo no início, mas nem lembro pq nao estava gostando. Tbm nao curto quando um livro explora a questão de crenças e tal. Acho que isso é algo pessoal e geralmente quem vai gostar do livro são aqueles que compartilham a mesma visão.
    Abraço,
    Alê
    www.alemdacontracapa.blogspot.com

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  3. GabrielaCeruttiZimmermann7 de junho de 2015 às 18:02

    Acho que concordo contigo, Alê. Penso que quando um autor quer falar sobre crenças deve cuidar para não ser tendencioso, e até agora não encontrei um que não fosse. Talvez por isso também preferi o filme, pois apesar da religiosidade ainda estar lá não é tão explicita.


    Abraço!

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