Quando
você luta com o passado, o passado revida.
E
quando seu diretor favorito produz uma minissérie inspirada num
livro de um dos escritores mais aclamados da atualidade? Você só
teve contato com uma obra do escritor em questão, mas foi mais que
suficiente para te fazer querer ler tudo dele. E a história envolve
dois assuntos que muito te interessam. Isso foi o que me impulsionou
a ver 11.22.63, minissérie produzida por JJ Abrams baseada no
livro Novembro de 63 de Stephen King. Uma história que
envolve viagem no tempo e o assassinato de JFK. Meus impulsos não
podiam estar mais corretos.
Jake
Epping (James Franco) é um professor de inglês em Lisbon, Maine.
Ele tem amor pela profissão, mas sua vida pessoal não anda muito
bem devido ao divórcio que está prestes a assinar. Sabendo que Jake
é um bom homem e do potencial que ele tem, Al (Chris Cooper) resolve
mostrar a ele um segredo sobre a despensa de seu restaurante e
passar-lhe uma missão. O segredo é que a despensa não é apenas
uma despensa, mas um portal para o passado. Direto para 1961. A
missão: Impedir que o Presidente Kennedy fosse assassinado em 22 de
novembro de 1963.
Para
Al, salvar Kennedy era impedir toda uma cadeia de eventos que
transformou o mundo no caos que conhecemos. Ele passou os últimos
trinta anos de sua vida (desde que descobriu o portal) viajando ao
passado para descobrir como fazer isso. Investigando, por exemplo,
se Lee Harvey Oswald (interpretado aqui por Daniel Webber) era mesmo
o assassino. E como já não pode mais continuar com isso passou a
missão para Jake, que de início dúvida mas acaba aceitando. O que
ele tinha a perder? E depois de saber tudo o que precisava embarca
para cumprir a tarefa.
Isso
é basicamente a introdução de algo muito maior. O que podia ser
simples (voltar no tempo, descobrir se Lee era realmente culpado, se
agiu sozinho e matá-lo antes que matasse Kennedy) ganha outras
formas com o desenrolar dos fatos. Talvez (ou principalmente) porque
Jake desobedece alguns conselhos básicos de Al, como não se
envolver e não interferir em nada além do pretendido. Mas como não
se envolver quando você precisa viver três anos em um lugar? Isso
eventualmente o levava a interferir em algo, e até acaba se
apaixonando. Além do mais, o passado não gosta de ser mudado. O que
significou muitos obstáculos para ele.
Tirando
essa questão de se é possível ou não mudar o passado e as
consequências que isso pode trazer (o que por si só já é bem
interessante), tem também o choque cultural que atingiria alguém
que de repente tivesse que viver em outra época. Com isso pode-se
pensar em um viciado em tecnologia tendo que lidar com a inexistência
da internet e dos celulares, mas é bem mais profundo. Como um
educador que acredita na liberdade sendo jogado em um tempo onde
ainda era imposto o apartheid e a mulher precisava aturar a violência
doméstica como se fosse sua obrigação. É difícil ficar
indiferente.
Como
ainda não li o livro Novembro de 63 (coisa que necessito
fazer mais do que nunca) não posso dizer o quanto a minissérie foi
fiel. Mas foi uma produção impecável, cativante e surpreendente.
Mostrando acima de tudo como pessoas reagiriam em uma situação
inimaginável e precisando lidar com todos os acasos que ela impõe.
Priorizando acima de tudo o lado humano, a implacável duvida entre
ser herói e cuidar dos seus.
11.22.63
teve oito episódios exibidos entre 15 de fevereiro e 4 de abril
desse ano pelo serviço americano de streaming Hulu. É forte,
impactante e o final superou as expectativas. Recomendo.