domingo, 12 de julho de 2015

[Resenha] Passarinha

Nome: Passarinha
Autora: Kathryn Erskine
Edição: 2/2014
Editora: Valentina
Páginas: 224

Sinopse: No mundo de Caitlin tudo é preto ou branco. As coisas são boas ou más. Qualquer coisa no meio do caminho é confuso. Essa é a máxima que o irmão mais velho de Caitlin sempre repetiu. Mas agora Devon está morto e o pai não está ajudando em nada. Caitlin quer acabar com isso, mas como uma menina de onze anos de idade, com síndrome de Asperger ela não sabe como. Quando ela lê a definição de desfecho ela percebe que é o que ela precisa. Em sua busca por ele, Caitlin descobre que nem tudo é preto ou branco, o mundo está cheio de cores, confuso e bonito.






Comentários:

Esse é um daqueles livros de premissa simples e delicada que logo que vi sabia que precisava ler. Passaram-se cerca de dois anos até que realmente pudesse fazê-lo, mas além da espera ter valido a pena fiquei com a sensação de que deveria ter lido antes. Pois Passarinha também é um daqueles livros que fazem você perceber o mundo de uma forma diferente, que fazem mudar o modo de pensar. E que todo mundo deveria ler.

Caitlin é uma menina de 11 anos com síndrome de Asperger que precisa lidar com a perda de seu irmão, Devon, e suas próprias dificuldades. O irmão era quem melhor a compreendia e que melhor a ajudava a compreender o mundo como ele é: confuso e inconstante. Mas ele foi morto junto com duas professoras em um tiroteio na escola onde estudava. A mãe faleceu de câncer quando Caitlin ainda era muito pequena, de modo que a menina mal se lembra dela. Ela agora só tem o pai, que não é perfeito mas faz o melhor que pode.

Na escola, Caitlin tem sessões diárias com a orientadora, a Sra. Brooks, que tenta ajudá-la a entender como funciona a comunidade e a fazer amigos. Mas o fato de receber tratamento precoce na escola não significa que o lugar seja perfeito. Ela lida com o preconceito por parte dos colegas e até dos professores. A verdade é que todos querem que ela viva conforme os padrões de um mundo sem padrões, mas ninguém realmente tenta entendê-la. Ninguém entende que apesar de ter percepções diferentes, os sentimentos de Caitlin são os mesmos de todo mundo.

Assim segue a história que por ser narrada por sua protagonista exibe uma leveza e empatia sem igual, e ainda uma grande profundeza de significado. A baixíssima quantidade de virgula e o fato dos diálogos não serem sinalizados por travessões ou aspas, apenas estão em itálico, ajudam a simbolizar o pensamento rápido da personagem. Isso pode fazer com que o texto pareça confuso para quem não o leu, mas na verdade o livro possui uma das linguagens mais simples e claras que já vi. A narrativa é objetiva, e a capitulação curta com temas pré-definidos ajudam a leitura a fluir ao mesmo tempo que convidam a refletir. Tanto que li em apenas duas “sessões”, mas dois dias após a conclusão ainda estou pensando no que li e sinto que ainda o farei por dias. Talvez por muito tempo.

A trama trata de assuntos como preconceito, falta de compreensão, amadurecimento e luto de forma simples e eficaz. Na verdade tudo parece mais simples pelos olhos de Caitlin, que não faz rodeios e não diz o que não quer dizer. Ela nos convida CAPTAR O SENTIDO (expressão que usa para dizer que entendeu algo ambíguo) do mundo, que talvez pudesse ser melhor se todos ao menos uma vez se propusessem a vê-lo pela perspectiva de uma criança com Asperger. É impossível não sorrir com seus pensamentos práticos e sentir um aperto com suas tristezas. A simbologia do texto também contribui muito para essa leveza. Claro que se tratando de simbologias algo pode se perder na tradução do inglês para o português, e o início do livro traz uma nota da tradutora explicando algumas adaptações que precisou fazer para não alterar o contexto. Como mudar o nome do filme O Sol é para Todos (favorito de Caitlin e Devon) para Matar Passarinho, tradução literal do título original To Kill a Mockingbird já que Caitlin faz analogias com ele. Então acho que nada se perdeu, e, de qualquer forma, o significado geral se manteve.

Kathryn Erskine se inspirou no massacre que ocorreu na Virginia Tech University em 16 de Abril de 2004, que deixou 37 mortos. Ela não conhecia ninguém diretamente envolvido, mas por fazer parte da comunidade sentiu como todos ficaram abalados. Pensou em escrever um livro sobre o assunto, sobre como um pouco de compreensão talvez pudesse ajudar a evitar esse tipo de tragédia. Pensou também em como uma criança com Asperger lidaria com isso. Então teve a ideia de juntar as duas coisas, e com dois temas “pesados” construiu uma trama leve e bonita. Vale dizer que o livro não fala apenas do preconceito com Asperger mas também com meninos como Josh, primo de um dos atiradores. Que adota um comportamento cruel pois todos são cruéis com ele.

Passarinha é um daqueles livros que pode-se dizer que não cabem em seu tamanho. Ele é pequeno, pouco mais de 200 páginas, mas de um significado imenso. De leitura rápida, mas de longa reflexão. Que mostra ao leitor que o mundo é um grande borrão de cores, e é isso que o torna tão belo. Que a vida a complicada, mas podemos trabalhar nisso para construir algo grande, forte e bonito.

8 comentários:

  1. Na época do lançamento desse livro eu fiz um post com varias quotes que encontrei, era em uma ação especial da editora, desde então eu tenho vontade de ler. Como você falou, e já é o que eu imaginava, esse livro deve ser mesmo um daqueles que muda muito nossa forma de ver o mundo.
    Beijos
    www.pepperlipstick.com.br

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  2. GabrielaCeruttiZimmermann13 de julho de 2015 às 17:52

    Lembro do seu post, Bia, e que ficou muito legal. O livro é lindo e certamente estará no meu TOP 10 do ano. Recomendo muito. :)


    Beijos!

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  3. Quero muito ler esse livro! Estou adorando as resenhas que estou encontrando sobre ele.. Baixei e irei ler assim que terminar a MLI <3


    Beijos
    www.saidaminhalente.com

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  4. GabrielaCeruttiZimmermann15 de julho de 2015 às 11:33

    Fico feliz em saber que irá conferir esse belo livro, Clayciele. :)


    Abraços!

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  5. Já li e ouvi falarem tanto desse livro, tantos elogios e recomendações que estou começando a ficar ansiosa para lê-lo. Realmente, parece ser uma história muito bonita. Ótima resenha, estou seguindo para não perder as próximas :D
    Beijo, Gabbi <3
    dearlysandra.blogspot.com

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  6. Francielle Couto Santos17 de julho de 2015 às 11:46

    Gabi, que resenha linda! Já ouvi coisas muito boas sobre esse livro, e sinto cada vez mais vontade de lê-lo. Fico tão gratificada quando entro em um blog e encontro bons textos sobre livros que não estão sendo tão falados por aí... me abre a mente para novas opções de leitura. E essa é, definitivamente, uma delas. Já tenho o ebook e vou adicioná-lona minha lista de leituras futuras. Quero mergulhar nessemar de reflexão proposto também.

    Abraços,
    www.universoliterario.com.br

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  7. GabrielaCeruttiZimmermann17 de julho de 2015 às 19:09

    Fico feliz que tenha gostado da resenha e que ela tenha te feito ficar mais ansiosa pela leitura, Gabbi. Passarinha é um livro maravilhoso! E obrigada por seguir! :)


    Beijos!

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  8. GabrielaCeruttiZimmermann17 de julho de 2015 às 19:17

    Fico extremamente feliz que tenha gostado da resenha, Fran! O livro é tão lindo que fiquei com receio de não fazer jus à obra. Confesso que tenho essa intenção de falar sobre livros que não tem tanta repercussão, e Passarinha merecia ter mais. Agora vou aguardar sua opinião sobre ele. :)


    Beijos!

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