domingo, 25 de outubro de 2015

[Resenha] Garota Exemplar

Nome: Garota Exemplar
Autora: Gillian Flynn
Edição: 1/2013
Editora: Intrínseca
Páginas: 448

Sinopse: Uma das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise. Com 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo – o maior sucesso editorial do ano, atrás apenas da Trilogia Cinquenta tons de cinza –, "Garota Exemplar" alia humor perspicaz a uma narrativa eletrizante. O resultado é uma atmosfera de dúvidas que faz o leitor mudar de opinião a cada capítulo. Na manhã de seu quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi. Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião pública – e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy –, Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo, e sem dúvida amargo, mas seria um assassino? Com sua irmã gêmea Margo a seu lado, Nick afirma inocência. O problema é: se não foi Nick, onde está Amy? E por que todas as pistas apontam para ele?

Comentários:

Como um dos livros mais aclamados de 2013 e que marcou presença em diversas listas de dez ou vinte melhores daquele ano, Garota Exemplar figurava em minha própria lista de desejados há um bom tempo. Só fui adquiri-lo ano passado e só pude conferir recentemente. E o que concluí é que existem muitos e bons motivos para tanto estardalhaço.

Amy é uma mulher bonita, inteligente e divertida, a típica garota perfeita. Tanto que seus pais ficaram famosos por escreverem uma série de livros infantis intitulada Amy Exemplar, onde a protagonista é inspirada nela. Mas ela desaparece misteriosamente na manhã de seu quinto aniversário de casamento com Nick, deixando para trás uma sala de estar revirada – um aparente sinal de luta - e a porta da frente escancarada. Seu sumiço logo vira motivo de comoção pública e muita, muita especulação.

Nick é um homem decente e tranquilo, aquele cara esforçado que cresceu numa cidade pequena, estudou e trabalhou duro para ser jornalista em Nova York. Mas o crescimento das mídias digitais levaram ao fechamento da revista onde trabalhava, e os pais doentes foram um motivo a mais para fazê-lo voltar a sua cidade natal. Tudo correu relativamente bem por dois anos, até Amy desaparecer. Na maioria desses casos o marido não é exatamente o mocinho, e suas reações estranhas não contribuem para uma boa imagem.

"Surpreendente" é uma palavra que mal descreve o que Garota Exemplar traz em sua trama e ainda assim é a melhor que consigo encontrar. O formato "ele disse, ela disse" contribui para que a percepção dos fatos e a opinião do leitor mude constantemente. É um verdadeiro jogo de verdades e mentiras, realidade e dissimulação. Quem está falando a verdade? O que está escondido por trás disso e daquilo? Nisso a história vai se moldando e o leitor percebe que a verdade está longe de ter apenas um lado.

Com uma narrativa em primeira pessoa que intercala as vozes de ambos os protagonistas em capítulos medianos (que vão ficando mais curtos perto do fim) temos uma ampla visão sobre o relacionamento de Amy e Nick. Os personagens praticamente conversam com o leitor, e essa sensação se mantém até nas páginas do diário de Amy. Ao meu ver, isso contribuiu muito para a verossimilhança da trama. É como realmente ter duas pessoas te contando sua versão dos fatos e dizendo: "Olha, foi isso que aconteceu e peço que fique do meu lado." Essa ferramenta acabou me lembrando a série de TV The Affair, que também usa dois protagonistas relatando suas versões dos fatos. O engraçado é que ao escrever o balanço de 1ª temporada desta, comentei que o sucesso de Garota Exemplar abrira portas para obras e produções que mesclassem dramas conjugais/familiares com thrillers psicológicos, como ainda não tinha lido o livro não imaginei que a série também tivesse formato semelhante.

A obra também é dividida em três partes, sendo que a primeira leva o leitor a acreditar piamente em algo que é totalmente desconstruído assim que a segunda se inicia. Creio que essa foi mais uma das grandes sacadas geniais da trama, minha reação foi algo como "você tá tirando com a minha cara?!". É a partir daí que uma história que se mostrava interessante se torna eletrizante, pois até então as coisas vinham se desenvolvendo de forma um pouco mais lenta. É nesse momento também que se passa a explorar verdadeiramente a psique dos personagens, levando a pensar como podemos conviver por anos com uma pessoa sem saber quem ela realmente é. Até que a terceira parte se desenvolve de um modo que você se pergunta se realmente existem pessoas tão mentalmente perturbadas. Até chegar a conclusão que sim, existem.

Senti um pouco de falta de ter um vislumbre (mesmo que pequeno) das percepções de outros personagens sobre os acontecimentos e o relacionamento de Amy e Nick, como os pais dela Marybeth e Rand e a irmã gêmea dele Margo. E também de acompanhar mais de perto a investigação, principalmente se fosse pela perspectiva da Detetive Boney. Mas como o cerne da trama se sustenta intrinsecamente em explorar e desvendar essas duas mentes altamente voláteis que formaram um casamento nuclear, isso se torna apenas um detalhe.

Não posso dizer que o final da obra me agradou, tampouco posso dizer que idealizei um final para uma trama da qual não sabia o que esperar por me trazer algo novo a cada página. Não é uma história do tipo "o bem venceu", afinal o que é o bem? É algo sobre duas pessoas insanas nesse mundo insano de falsas idealizações em que vivemos. E o final (que além de tudo foi reticente) foi condizente com isso, e é o que mais importa.

Em 2014 Garota Exemplar teve uma adaptação para o cinema estrelada por Ben Affleck e Rosamund Pike e roteiro assinado pela própria autora Gillian Flynn. O filme foi bem recebido e pela crítica e teve indicações ao Oscar e Globo de Ouro. De minha parte espero poder conferir logo o filme, bem como as demais obras de Flynn na esperança de encontrar algo tão intrigante quanto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário