terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

[Resenha] Sal

Título: Sal
Autor: Letícia Wierzchowski
Edição: 1/2013
Editora: Intrínseca
Páginas: 240

Sinopse: Um farol enlouquecido deixa desamparados os homens do mar que circulam em torno da pequena e isolada ilha de La Duiva. Sob sua luz vacilante, a matriarca da família Godoy reconstitui as cicatrizes do passado. Em sua interminável tapeçaria, Cecília entrelaça as sinas de Ivan, seu marido, e de seus filhos ausentes, elegendo uma cor para cada um. Com uma linguagem poética, a premiada escritora gaúcha Leticia Wierzchowski, autora de A casa das sete mulheres, dá voz e vida a cada um dos integrantes da família Godoy, criando uma história delicada e surpreendente, enriquecida por múltiplos e divergentes pontos de vista.


Comentários:

Quando li a sinopse de Sal me interessei na mesma hora. Ainda mais por ser de Letícia Wierzchowski, autora de A Casa das Sete Mulheres que é outro livro que quero muito ler. Acabei ganhando Sal na promoção de 2 anos do Além da Contracapa, e a Mari já o tinha elogiado tanto que só me deixara ainda mais ansiosa. E não é que minhas expectativas foram superadas?

Em um farol na ilha de La Duiva, próxima a Oedivetnom vive a família Godoy. Uma família cheia de amores e tragédias, cujo o próprio farol e a casa são partes integrantes. Com uma história tão entrelaçada quantos os pontos de uma tapeçaria e tão poética quanto a escrita de uma jovem moça. Pois é assim que a história nos é apresentada.

Ivan e Cecília se apaixonaram nos interiores daquela casa, mesmo sob a vigilância da velha Doña. Tiveram seis filhos: Lucas, Julieta, Orfeu, as gêmeas Flora e Eva e o caçula Tiberius. Todos com suas peculiaridades e sinas. Fatos que descobrimos aos poucos, pelas vozes de cada um enquanto Cecília tricota seu tapete. Pois a matriarca elegera uma cor para cada membro da família, e os personagens se revesam para contar a história assim como as cores na tapeçaria.

A família Godoy sempre foi marcada por tragédias, mas o ápice foi quando Flora (que sempre foi muito diferente de sua gêmea Eva) resolveu escrever um livro e a ficção a se transformar em realidade. O Professor Julius Temppleman vem da Inglaterra para conhecer a autora do livro que virara sua cabeça, e se abrem as portas para um triângulo amoroso inusitado. Esse evento os marcaria e os transformaria para sempre. Até mesmo dividindo a família.

Conhece o termo “tragédia grega”? É exatamente isso que temos em Sal. Podemos até ver algumas ligações, como Cecília tricotando um tapete enquanto espera que seus filhos retornem em uma clara referência ao clássico Odisséia, de Homero. Uma história com seus amores, poesias e sinas impossível de largar ou esquecer. Me surpreendeu como um livro relativamente fino (tem apenas 240 páginas) conseguiu ser tão profundo em contar a trajetória da família por mais de 30 anos. A escrita de Letícia é tão bonita em todos os estilos que se revesam no livro que era muito difícil parar de ler.

Além das tragédias gregas, Letícia também se inspirou no melhor da literatura mundial e grandes obras são citadas. Há ainda referências aos belos litorais da América do Sul, Europa e Oriente Médio. Embora o Uruguai talvez possa ser visto como grande inspiração. Percebe-se isso pelo nome da ilha La Duiva, um anagrama para La Viuda, um farol deste país, e em Oedivetinom, Montevideo de trás pra frente.

Os personagens são muito bem construídos. E embora alguns tenham mais destaque que outros e sejam de fato o centro da história, todos tem sua participação e suas perspectivas mostradas. É impossível não ter seus favoritos e torcer por eles. Sofrer com eles. Os livro é dividido em três partes e existem algumas disfunções temporais na forma de apresentar a trama, o que faz o enredo ficar mais interessante e com certo mistério. Apesar das angústias que o desenrolar da história me provocavam, realmente devorei esse livro. Pois mais angustiante que acompanhar a trama era esperar para saber o que ia acontecer. Quando precisava largar o livro me sentia como o farol depois da morte de Ivan e só ficava pensando nele.

Sal foi a estreia das obras nacionais na editora Intrínseca, e pode-se dizer que foi uma estreia com o pé direito. O acabamento e a diagramação fizeram jus ao trabalho de Letícia. As diferentes fontes marcando as diferentes passagens foram um detalhe que fez toda a diferença. A única coisa que passou despercebida na revisão e edição é o fato que o dono da livraria e tio de Julius muda de nome algumas vezes. Hora ele é chamado de Fabian, hora de Julian. Mas isso não chega a atrapalhar a leitura.


Apesar dos pesares, pode-se dizer que Sal teve um final feliz. Claro que nem todas as marcas de uma tragédia podem ser reparadas, assim como as perdas de um naufrágio. O que está feito está feito. Mas ver que pelo menos alguns puderam seguir adiante foi um alívio. Sem duvidas um grande livro que indico pra quem gosta uma trama intensa e poética.

Nenhum comentário:

Postar um comentário