terça-feira, 1 de julho de 2014

Um outro olhar sobre A Viagem de Chihiro (2001)


Para inaugurar a coluna-sem-nome, nada melhor do que trazer uma das minhas animações favoritas...

Olá, pessoal! Eu sou a Hanna, do blog Hanna no Sekai (que está engatinhando ainda... hihihi) e, a partir de hoje, serei colunista aqui no CV! Esta coluna, que ainda não tem nome, trará reviews e análises sobre assuntos diversos mas com foco maior em animações, quadrinhos e games. Apresentações feitas, vamos ao trabalho! :)

A Viagem de Chihiro (em inglês, "Spirited Away"; em japonês, "Sen to Chihiro no Kamikakushi") é uma animação japonesa produzida pelo Studio Ghibli - grande referência no mundo das animações - e com direção e roteiro de Hayao Miyazaki. Com estreia em 2001, levou em 2002 o Urso de Ouro no Festival de Berlim, os prêmios de Melhor Filme e Melhor Música no Japan Academy Award, e o prêmio de Melhor Filme Asiático no Hong Kong Film Awards. Em 2003, recebeu o Oscar de Melhor Animação. Com um orçamento inicial de U$19 milhões, teve uma receita de quase U$275 milhões, tornando-se o filme com melhor retorno financeiro na história do cinema japonês e detendo o record de bilheteria no país - que até então era do filme Titanic - até este ano, quando foi ultrapassado pela animação Frozen, da Disney.


Chihiro e Yubaba

A trama gira em torno de Chihiro, uma garotinha de 10 anos que está mudando para uma cidade nova com seus pais. Em meio à viagem, eles encontram um vilarejo aparentemente abandonado, mas que parecia se preparar para um festival. Vendo toda aquela comida, os pais da garota resolvem fazer uma refeição e acabam sendo transformados em porcos (que, por sinal, é uma cena bem engraçada já que eles comiam como porcos...). Na busca por ajuda, Chihiro acaba entrando no mundo dos espíritos, controlado pela poderosa Yubaba. Sem conseguir ajuda e sem ter para onde ir, ela acaba indo trabalhar na sauna local onde, com a ajuda de seu novo amigo Sen, parte em busca de uma forma de salvar seus pais e voltar para o mundo normal.

Por essa trama ser incrivelmente bem escrita, bem roterizada e bem transportada para a animação, vou apenas dizer que, no fim, tudo dá certo. Mas vou parar o resumo por aqui para não tirar a emoção do desdobramento desses acontecimentos. ;)

Vou começar esta análise pelo título. Kamikakushi (presente no título original) é um folclore muito presente na cultura japonesa. Segundo ele, às vezes as pessoas desaparecem ou morrem de formas misteriosas e tais eventos seriam causados por Kami (o deus japonês), em momentos de ira. Essa lenda é tão forte por lá que, durante o período Pré-Moderno, eram comuns os casos de crianças que desapareciam e eram encontradas perto de templos ou santuários, vários dias depois, dizendo terem sido levadas por Kami. E é a isso que o título faz alusão: Sen e Chihiro foram levados ao mundo dos espíritos. 

(Por sinal, já deixo aqui um aviso: Sen é meu personagem favorito e toda sua história é incrível! Mas, infelizmente, falar mais sobre ele poderia estragar completamente a experiência de quem ainda não viu esse filme. Por causa disso, daqui para frente, vou fingir que ele não existe.)


Chihiro e Sen

Porém, a "viagem" não é apenas para o mundo dos espíritos, mas também para a vida adulta. O momento em que Yubaba rouba o nome de Chihiro e a obriga a trabalhar na sauna representa esse rompimento com a infância. Essa busca por uma nova identidade em um novo mundo pode ser comparada com a de Alice no País das Maravilhas, e é o que a antropologia chama de limiaridade: o ato de estar no limite ou entre dois estados diferentes de existência. Para Alice, era a fronteira entre o mundo real e o País das Maravilhas. Para Chihiro, entre seu mundo e o mundo dos espíritos.

Além dos temas folclóricos, a animação também faz algumas críticas à realidade da sociedade moderna japonesa. Dentre elas, vale citar a crise econômica, simbolizada pelo festival: quando Chihiro está em seu mundo, o que ela vê naquela cidade é praticamente o fantasma do que costumava ser o festival. Mas, quando ela vai para o mundo dos espíritos,  festival ganha vida e riqueza, fazendo uma alusão a essa decadência econômica pela qual o país passava na época.


Chihiro e o Sem Rosto

Outra crítica interessante é a representada pelo personagem sem rosto, uma figura tímida, sempre próximo de Chihiro desde que ela entra naquele mundo. Por inocência da criança, ela ignora a regra e deixa-o entrar na sauna em um dia de chuva, sem saber de sua carcterístia especial: a de aprender comportamentos apenas observando-os. Pois bem, uma vez lá dentro, ele se torna uma criatura enorme, formada por lixo, devorando tudo e todos que vê pela frente. Um retrato perfeito das pessoas que frequentavam aquele lugar. Mais uma vez, Chihiro salva o dia e o Sem Rosto, devolvendo-o a sua forma normal e tornando-se sua amiga. Por sinal, uma característica que a garota adquire em sua jornada é a de aceitar o diferente: no fim, ela se torna amiga de todos, independente de suas aparências ou motivações.

Em entrevistas, Miyazaki afirmou que queria construir uma personagem inocente e forte ao mesmo tempo, que pudesse servir como uma heroína para as garotas de 10 anos. E, de fato, é isso o que ele faz com Chihiro: uma menina que não é bonita ou engraçada, no começo até bem chata, mimada e birrenta, mas que passa por grandes transformações e amadurecimentos. Uma verdadeira viagem em busca da vida adulta, superando obstáculos, solidão e preconceitos.




Bem, pessoal, é isso! Peço desculpas pelo post enorme e garanto que não costumo escrever tanto assim! hahaha

Deixem nos comentários se vocês já viram essa animação, o que acharam dela, do post... Enfim! E aceito sugestões de temas e de nome para a coluna também! :D

5 comentários:

  1. GabrielaCeruttiZimmermann1 de julho de 2014 às 17:31

    Aê Hanna! Bem-vinda e bela estreia! ^^ Não cheguei a ver o filme mas me lembro da época que foi lançado, só confesso que não sabia bem do que se tratava. Mas fiquei curiosa, parece bem peculiar. Vou assistir. :)


    Abraço!

    ResponderExcluir
  2. êeei Hanna! Seja bem vinda ao CV. Gostei muito da sua escrita. Não conhecia esta animação, na verdade não conheço nada de animes etc..
    Estava até pensando em começar a assistir. Se for falar mais sobre este assunto, poderia falar sobre AVATAR também, acho que é o único Anime que eu realmente acompanhei (não até o final).


    Abraços
    www.booksever.blogspot.com

    ResponderExcluir
  3. Obrigada, Filipe!
    Se você tiver Netflix, dá para assistir por lá. ;D


    Vou ver se programo um post sobre Avatar, sim. Valeu pela sugestão! :)

    ResponderExcluir
  4. Oi Hanna.


    Parabéns pela coluna! Sou fã de animações e confesso vergonhosamente que ainda não assistir essa. Mas fiquei muito interessado. Especialmente para saber o que acontece com o Sen. Parece ser muito legal e já irei procurar para baixar.


    Abraços!!!

    ResponderExcluir
  5. Obrigada, Jeferson!
    Pode assistir sem medo e, se você tiver Netflix, tá disponível lá. ;)
    E Sen é muito amor. <3
    Hahahaha

    ResponderExcluir