segunda-feira, 9 de novembro de 2015

[Vale Ver #08]: Grimm


 Nada de histórias para dormir ou finais felizes.

E se as histórias que nossos pais contavam quando éramos crianças não fossem apenas histórias, mas avisos?” Esse foi o slogan usado na 1ª temporada da série e que me chamou a atenção na época da estreia. Poucas semanas antes tinha começado a acompanhar Once Upon a Time, que também consiste em uma releitura dos antigos contos infantis. Grimm no entanto prometia uma abordagem bem diferente e foi nisso que resolvi apostar. Nunca me arrependi.

Nick Burkhardt (David Giuntoli) é um detetive do Departamento de Homicídios da polícia de Portland, que mora com a namorada Juliette (Bitsie Tulloch) e tem como parceiro de escolta e grande amigo o detetive Hank Griffin (Russel Hornsby). Tudo em sua vida ia muito bem, obrigado, até que certo dia ele percebe que ao olhar para algumas pessoas vê algo mudar em seus rostos. Nesse mesmo dia uma jovem usando casaco com capuz vermelho é brutalmente morta no bosque, as marcas de ataque em seu corpo parecem feitas por um animal embora só haja rastros humanos. E pra completar, sua Tia Marie - que criou Nick desde que seus pais morreram quando tinha 12 anos - veio lhe visitar e informar que está com um câncer em fase terminal. Ele nem imaginava como esses três fatos estariam relacionados e mudariam sua vida para sempre.

O fato é que Nick é um Grimm, o que significa que ele pode ver coisas que outros não podem. É aí que entram as antigas histórias, pois pela mitologia da série os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm – que ficaram famosos por percorrer a Europa no intuito de fazer registro escrito delas – teriam esse mesmo dom. E os ditos “monstros” existem, são os Wesen. Pessoas com um instinto quase animal e que são capazes das maiores atrocidades. Apenas um Grimm pode reconhecer sua verdadeira face, e é seu dever caçá-los com o fim de manter o equilíbrio.

Mas as coisas não são assim tão preto no branco. Diferente das versões mais romanceadas dos contos onde monstros são sempre maus e princesas e príncipes bons, qualquer um pode ser qualquer coisa. E Nick logo descobre isso com Monroe (Sillas Weir Mitchell), um Blutbad – algo como um lobo mau – em recuperação que o ajuda a entender esse mundo Wesen e até a treinar. Veja bem, um Grimm só recebe o dom quando seu antecessor morre ou está perto disso. No caso, Tia Marie. Ela foi justamente visitá-lo para entregar seu trailer com as armas e livros contendo todas as informações que precisaria. Infelizmente, não teve muito tempo de treiná-lo. Até porque ela não o deixou ciente de sua origem desde a infância, como deveria.



A verdade é que ser treinado por Monroe permitiu que Nick fosse um Grimm “diferente”. Conhecer o mundo Wesen através de um deles evitou que se tornasse o tipo de Grimm que “corta a cabeça primeiro e pergunta depois” e serve de carrasco para a realeza. Esta que por sinal também é introduzida à trama de forma bem inusitada. Todavia, Nick aprende que alguns Wesen como o Eisbiber – semelhante a um castor – Bud (Danny Bruno) são totalmente inofensivos. E mesmo os mais ferozes como o Blutbad podem controlar seus instintos. Ah, e que nas histórias que os Wesen ouvem quando crianças, os Grimm são os vilões.

Existem também muitos segredos e mistérios a serem desvendados. Inicialmente os mais importantes dizem respeito ao Capitão Renard (Sasha Roiz), que além de ser superior de Nick na polícia tem lá os seus segredos que só começam a ser revelados entre a 1ª e a 2ª temporada. E também uma antiga chave que estava no trailer de Tia Marie, cuja qual novas informações são dadas de tempos em tempos e que é fundamental para a trama como um todo.

Todavia, uma das coisas que acho mais interessantes em Grimm é que aliar a mitologia dos contos de fadas com o formato policial procedural (casos semanais) foi uma forma brilhante de trazer sua essência original para os dias de hoje. Nem todos sabem, mas essas histórias originalmente não tinham nada de delicado e muito menos eram para a hora de dormir. Elas eram como folclore, histórias com um sentido moral e que muitas vezes envolvem violência, sangue e etc. Mesmo que as versões hoje contadas para as crianças tragam mensagens do tipo “faça sempre o bem”, deixam em muito a desejar para o verdadeiro significado de alerta sobre a natureza humana. Dito isso, a série tem sempre ótimas formas de aplicar o contexto original dos contos em investigações criminais. Só pra citar alguns exemplos: Chapeuzinho Vermelho – pedofilia e canibalismo. Rapunzel – sequestro e carcere privado. E as vezes além de trazer o tema original ainda agrega algo contemporâneo, como João e Maria que já trata de abandono e canibalismo ainda virou pauta para tráfico de órgãos. Poderia dar muitos outros exemplos, mas temo tirar a graça de descobrir sozinho.



Além disso, a série não se atém a explorar apenas o universo dos contos dos irmãos Grimm – que por si só já é bem amplo – mas também histórias de outros escritores e lendas e mitos dos mais diversos lugares. Já foram abordados os folclores asiático, latino, africano... Já teve até um tipo de “lobisomem brasileiro” com cara de lobo-guará chamado Luison. Da mesma forma que não centra suas aplicações apenas em crimes, mas aborda fatos históricos, ceitas religiosas, costumes culturais e por aí vai. Isso por que as diversas espécies Wesen em muitas ocasiões são usadas como alegoria para as diferentes etnias, incluindo o fato de que muitos são contra as misturas de “raças”. De forma que tiveram um modo bem interessante de falar sobre a II Guerra Mundial e ceitas contra a miscigenação. Também foram usadas como metáfora para anomalias genéticas que outrora deram origem aos circos de horror. E sabe as tais possessões demoníacas? Também já ganharam uma abordagem bem instigante. Sem falar que tudo isso agrega muito para a trama principal.

Seria normal imaginar que Grimm possui uma atmosfera fantástica por causa dos contos em sua mitologia, e de certa forma dá para dizer que sim. Porém, creio que fica muito mais para algo que mistura o sobrenatural e a ficção científica. Isso porque volta e meia são usadas poções, espíritos e outras coisas que nem todos podem ver. Mas as vezes também são usadas explicações científicas. Como um pelo de Blutbad encontrado por Juliette – que a propósito, é veterinária -, que ao analisá-lo encontrou traços de DNA humano e animal. Ou a descoberta de que Nick possui um tipo a mais de bastonetes, o que lhe permite ver coisas que outros não podem. E as vezes há explicações que mesclam sobrenatural e ciência.

Grimm estreou dia 28 de outubro de 2011 no canal americano NBC, teve 88 episódios distribuídos em suas 4 primeiras temporadas, 3 webséries e recentemente – no último 30 de outubro, mais precisamente - deu início à 5ª. É bem verdade que nem sempre as coisas foram bem, mas creio que da metade da 3ª temporada em diante a série atingiu seu ápice e tornou-se algo imperdível. Sim, sempre gostei mas em certa ocasião passou de algo “gostável” para “venerável”. Grimm já ganhou HQs e livros que espero um dia chegarem ao Brasil. É uma série pouco valorizada e que pode ser muito mais do que se espera.

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