domingo, 2 de agosto de 2015

[Resenha] Carrie, a Estranha

Nome: Carrie, a Estranha
Autor: Stephen King
Edição: 1/2013
Editora: Suma das Letras
Páginas: 200

Sinopse: Carrie, a estranha narra a atormentada adolescência de uma jovem problemática, perseguida pelos colegas, professores e impedida pela mãe de levar a vida como as garotas de sua idade. Só que Carrie guarda um segredo: quando ela está por perto, objetos voam, portas são trancadas ao sabor do nada, velas se apagam e voltam a iluminar, misteriosamente. Aos 16 anos, desajustada socialmente, Carrie prepara sua vingança contra todos os que a prejudicaram. A vendeta vem à tona de forma tão furiosa e amedrontadora que até hoje permanece como exemplo de uma das mais chocantes e inovadoras narrativas de terror de todos os tempos. Com tantos ingredientes de suspense, Carrie, a estranha logo se transformou num enorme sucesso internacional e passou a integrar a mitologia americana.


Comentários:

Não são poucos os elogios dados às obras de Stephen King. Sua habilidade narrativa, a criatividade de suas premissas e a forma envolvente como as desenvolve, seus personagens verossímeis... Por esses e outros motivos que já há um tempo tinha vontade de ler algo deste que ficou conhecido como Mestre do Terror, mas que escreve muito mais que isso. Assistir adaptações e episódios escritos por ele não bastava, precisava ler um livro. E como sua obra é extensa, resolvi começar por seu primeiro livro publicado.

Carrieta White (apelidada de Carrie) é uma dessas jovens que poderia ser qualquer uma. Sua vizinha, sua colega de classe ou até você. A verdade é que todo lugar possui uma Carrie, aquela pessoa subjugada e excluída pelos demais por ser considerada esquisita, estranha. Ela não é uma garota bonita, é tímida e o fanatismo religioso de sua mãe Margaret não contribui em nada para que ela se enturme. Carrie sofre bullying desde que se conhece por gente, e tudo piora no dia de sua primeira menstruação. Aos 16 anos, no vestiário do colégio.

A garota foi criada por uma mãe que considera tudo pecado e obra do demônio, nem sabia o que era menstruação (pois para Margaret isso é resultado do pecado da mulher) até acontecer. Colocando-a numa situação constrangedora por natureza e ainda foi vaiada pelas colegas por conta de sua reação assustada. Ao chegar em casa, ainda foi espancada pela mãe. Assim ela vivia, constrangida na escola e reprimida naquele que deveria ser o seu lar. Mas ninguém sabia que a puberdade iria aflorar também o dom telecinético de Carrie, e que não se deve subestimar o poder de uma pessoa oprimida.

Assim a história vai se desenvolvendo ao mesmo passo em que vamos conhecendo fatos de sua infância e até mesmo de antes de nascer. Quanto mais tensa a situação em que Carrie se vê mais forte ele descobre que é o seu poder. Ela passa a treinar, a princípio para se rebelar contra a opressão de sua mãe. Mas uma “brincadeira” no baile da escola se torna a gota d'água, e a pequena cidade onde vive vê a maior destruição que poderia imaginar.

Apesar de ter sido escrito e publicado pela primeira vez a mais de quarenta anos, Carrie, a Estranha aborda temas que não poderiam ser mais atuais. O bullying e massacres em escolas tem se tornado um assunto em pauta tanto pelas questões pedagógicas quanto de segurança. É fácil associar a explosão emocional que acarreta na destruição de boa parte da cidade com os tiroteios que volta e meia vemos em manchetes de jornais. Esse, a propósito, também é o tema de Rage – Fúria (escrito antes mas publicado depois), escrito por King sob o pseudônimo de Richard Bachman. Outro assunto é a obsessão religiosa, quando pessoas doentiamente levam ao pé da letra o que está em escrituras sagradas (sejam quais forem) de forma a obscurecer sua visão do mundo. A forma como Margaret trata Carrie por considerar sua capacidade telecinética um sinal de bruxaria pode ser ligada a pais que maltratam ou até matam filhos que nasceram com doenças genéticas ou má formação por considerá-los “aberrações”.

Pelos comentários que li e ouvi a respeito de Carrie, a Estranha sempre pensei que a trama girasse em torno de algo sobrenatural. Também é o que normalmente se espera de um livro classificado como terror. E me surpreendi ao encontrar uma explicação lógica, científica, para a telecinese de Carrie. Um gene recessivo, uma mutação no cérebro. O terror se faz por conta da ignorância, do preconceito e da situação de caos que se gera quando o oprimido não aguenta mais.

King optou por uma estrutura epistolar para tornar a trama mais verossímil, intercalando a narrativa em de terceira pessoa sob a perspectiva de alguns personagens com trechos de teses, reportagens, inquéritos e cartas. Não existem capítulos, apenas uma divisão em três partes: Brincando com sangue, Noite do baile e Escombros. Essa estrutura apesar de tornar a leitura um pouco mais lenta faz refletir ao mostrar as várias facetas de uma mesma história, e como pode ser fácil perder a humanidade de uma pessoa ao vê-la sob os olhos da mídia ou transformá-la em objeto de estudo. Esse exemplar também conta com uma introdução escrita por Stephen King em 1999, onde o autor conta como surgiu o livro e sua inspiração em duas garotas que estudaram em seu colégio.

Carrie, a Estranha ganhou sua primeira adaptação para o cinema em 1976, dirigida por Brian de Palma e com Sissy Spacek e John Travolta no elenco. Chegou a ganhar uma sequência em 1999 intitulada The Rage: Carrie 2, que não é baseada em nenhum livro. Em 2002 virou um telefilme estrelado por Angela Bettis, Emilie de Ravin e Patricia Clarkson. E uma nova adaptação para o cinema em 2013, com Chlloë Moretz e Julianne Moore. Além de um musical da Broadway em 1988 e diversas referências em programas de TV e outros livros.

Esse pode ser o livro que alçou Stephen King para a fama, que virou um ícone para o gênero e até que gerou polêmica na época de sua publicação. Mas acima de tudo, mostra a tênue linha entre a força e a fragilidade que está nas pessoas e como é fácil ir de um lado ao outro. E como é erroneamente simples julgar a inferioridade de alguém quando não se sabe do que ela é capaz.

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