Nome:
Eu Sou o Mensageiro
Autor:
Markus Zusak
Edição:
2/2007
Editora:
Intrínseca
Páginas:
320
Sinopse:
Ed
Kennedy leva uma vida medíocre, sem arroubos. Trabalha, joga cartas
com cúmplices do tédio, apaixona-se por uma amiga que dorme com
todos os vizinhos do subúrbio e divide apartamento com um cão
velho. O pai alcoólatra morreu há pouco; a mãe parece desprezá-lo.
Certo
dia, ele impede um assalto a banco e é celebrizado pela mídia. O
ato heroico
tem consequência.
Logo depois, Ed recebe enigmáticas cartas de baralho pelo correio:
uma sequência
de ases de ouros, paus, espadas, copas, cada qual contendo uma série
de endereços ou charadas a serem decifradas. Após certa hesitação,
rende-se ao desafio. Misteriosamente levado ao encontro de pessoas em
dificuldades, devassa dramas íntimos que podem ser resolvidos por
ele. Uma mulher é estuprada diariamente pelo marido, enquanto uma
senhora de 82 anos afoga-se em solidão, à espera do companheiro,
morto há mais de meio século.
A
ele parece caber o papel do eleito, do salvador. Convencido disso,
segue instruções e se perde entre ficções de estranhos e sua
própria, embaçada, realidade. A certa altura pergunta-se: "Eu
sou real?" Markus Zusak cria um personagem comovente capaz de
confrontar o mistério e, por meio da solidariedade, empreender um
épico que o levará ao centro de sua própria existência.
Comentários:
Não
é nenhum segredo que AMenina que Roubava Livros
é
um título presente no meu TOP
10 Favorite Books,
e desde que o li pela primeira vez tenho vontade de conferir outras
obras de seu autor. De tantos comentários sobre Eu
Sou o Mensageiro
vindos
de amigos, especialmente da Francielle do Universo Literário,
essa me pareceu ser a próxima jornada ideal. Todavia, o livro ficou
tanto tempo na minha estante que quando decidi que estava enfim na
hora de embarcar nessa já nem lembrava sobre o que se tratava. E fiz
questão de começar a ler sem dar aquela conferida na sinopse, há
tempos não fazia uma leitura às cegas e já tinha esquecido de qual
era a sensação. E é muito bom fazer isso.
De
cara já levei um choque por se tratar de uma história
contemporânea. Não sei por quê, mas de alguma forma temos a ideia
de que os escritores seguem sempre um mesmo gênero. Talvez porque
boa parte o faça, e eu que esperava encontrar uma história de época
acabei me deparando com uma trama atual. Assim conheci Ed Kennedy, um
ordinário (em quase todos os sentidos que essa palavra pode ter)
jovem australiano de 19 anos que mente a idade para realizar o ofício
de taxista. Sua vida não tem nada de especial, ele não tem nada de
especial. Até que ele e seus amigos presenciam um assalto a um
banco.
Ed
mora em uma casinha simples com seu cachorro Porteiro, joga cartas
quase todos os dias com seus três (únicos) melhores amigos Audrey,
Marv e Ritchie. Lida quase diariamente com o menosprezo de sua mãe,
que faz questão de mencionar o quanto seus irmãos são mais bem
sucedidos que ele. Ele mesmo vive se martirizando com o fato que não
fez e provavelmente nunca fará nada excepcional. Isso até que o tal
banco é assaltado e Ed, contrariando todas as expectativas que tem
sobre si próprio, realiza um ato heroico e vira notícia na cidade.
E alguém decide que essa não deve ser uma ação isolada, nem mesmo
para Ed.
Pouco
depois do julgamento do assaltante, Ed começa a receber cartas de
baralhos com endereços ou charadas inscritas. Cada uma dessas
cartas, os ases de ouros, paus, espadas, copas e um curinga,
representam três missões a serem cumpridas, três mensagens a serem
entregues. Cabe apenas a Ed descobrir o que essas pessoas passam e o
que deve fazer para ajudá-las. Mesmo que seja necessário machucar
alguém. Ele começa então sua jornada, sempre se perguntando quem
está fazendo isso, por que essas pessoas foram escolhidas e por que
ele, Ed Kennedy, foi escolhido para ajudá-las?
A
primeira coisa que deve ser dita é que Eu
Sou o Mensageiro
não
é uma história cercada por uma grande moral ou profundas reflexões.
Mas sim pela simples constatação sobre ações e resultados. Ao
fazer com que Ed - um personagem que está longe de ser um estigma de
super-herói - que é a mais perfeita representação da banalidade
humana ser forçado a lidar com situações tristes ou simplesmente
desconfortáveis para algumas pessoas, ele mesmo se força a
descobrir como fazer algo para mudar isso. Pode ser algo simples como
passar algumas tardes com uma simpática senhorinha e ajudar uma
garota a confiar mais em si mesma, ou intensa como dar uma lição em
um marido violento e mostrar a dois irmãos teimosos o que é
lealdade. Mostrando como pequenas ações podem ter um valor
imensurável, e como sair da zona de conforto – que não significa
exatamente uma situação confortável - pode ser difícil.
Outra
característica notável é a narrativa feita em primeira pessoa por
Ed, que se mostra dono de um humor bastante peculiar e irreverente.
Já começa constatando que o assaltante do banco é um mané, e
ainda faz várias observações pejorativas sobre si mesmo. Sem falar
dos diálogos com Porteiro, é cômico vê-lo imaginando o que o cão
lhe diria. (Mas quem nunca fez isso?) E ainda descrevendo seus
amigos, que não estão em situação muito melhor e guardam alguns
segredos que serão revelados ao longo do enredo.
A
trama é dividida em cinco partes, uma para cada carta que Ed
recebeu. A capitulação se reveza entre curta e mediana, sendo
numerada como as cartas do baralho. Ou seja, vão de A a K em cada
parte. Com exceção da última, que é mais curta por trazer apenas
uma missão e todos o capítulos recebem a “numeração” J (de
Joker).
Essa divisão contribuiu para a simbologia da história e deu um
toque peculiar a obra, fazendo dela algo realmente único.
A
princípio pode parecer que descobrir quem estava mandando as cartas
seria uma das coisas mais importantes. Cheguei a criar várias
teorias, inclusive, baseada em uma leitura recente, que Ed teria
dupla personalidade e ele mesmo as estaria enviando. Bem, a resposta
é dada no final mas então você percebe que está longe de ser um
dos fatores mais importantes. O que realmente importa são aquelas
pequenas percepções, os pequenos atos que podem fazer de nós
pessoas melhores. Aquelas coisas que às vezes deixamos de fazer por
não julgarmos importante ou fora de nosso alcance, mas quando alguém
as realiza por nós faz toda a diferença. E como podemos nos
subestimar sem razão alguma.
Eu
Sou o Mensageiro
pode
não ser um livro de grandes eventos e revelações, mas assim como
seu protagonista, se faz importante pelas pequenas coisas. Gosto
sobretudo de livros que fazem o leitor refletir sem perceber, e esse
é um deles. Também uma prova da versatilidade de Markus Zusak. Fico
agora ainda mais ansiosa para conferir a Trilogia
Irmãos Wolfe.
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