Correr,
lutar, sobreviver.
Vou
confessar que só tomei conhecimento sobre a existência da saga de
James Dashner ano passado, com o lançamento da adaptação do
primeiro livro para o cinema. Ao pesquisar um pouco mais, me
interessei pela proposta e fiquei curiosa por causa da aura de
mistério que parecia envolver a trama. Mesmo com o receio de estar
embarcando em uma modinha (quem nunca?), comprei o
box e fui nessa. O fato é que gostaria de ter descoberto essa
história antes.
Imagine
que você acordou em um elevador, que mais parece uma caixa de metal,
sem nenhuma memória além do seu próprio nome. E quando a caixa se
abre, dá de cara com dezenas de garotos na mesma situação. É
assim que começa a história de Thomas, nosso protagonista. Assim
que é retirado da Caixa, a situação apresentada não é muito
melhor. Todos os garotos chegaram ali da mesma forma, e ninguém faz
a mínima ideia de por quê foram mandados para esse lugar ou quem
fez isso com eles. Só sabem que apesar dos mantimentos que chegam
com regularidade precisaram formar sua própria sociedade para
sobreviver. Que todas as manhãs quatro portais de pedra se abrem
para um labirinto que parece não ter saída, embora todos os dias um
grupo chamado de Corredores saia para tentar desvendá-lo. E que todo
mês chega um novo garoto. Exceto que um dia depois da chegada de
Thomas chega uma garota chamada Teresa, e tudo começa a mudar.
Esse é
só o início do primeiro livro, e praticamente tudo que posso dizer
do enredo sem dar grandes spoilers. O incrível é como Dashner pegou
uma ideia que pode soar um pouco estranha e sem propósito, mas que
ao se desenrolar se mostra ampla e cheia de nuances. E ainda
inseri-la como um experimento científico em um futuro distópico
onde o mundo que conhecemos foi destruído por uma explosão solar e
a humanidade está ameaçada por um vírus fatal. É uma daquelas
histórias em que o segredo está na habilidade do autor. A
construção dos personagens, a narrativa, a linguagem própria, as
situações e reviravoltas... Tudo se amarra de um jeito que você só
quer ler sem parar e fica se perguntando “que plong* tá
acontecendo aqui?”.
Não
posso fazer uma análise de cada livro pois como mencionei
anteriormente, não há muito o que eu possa dizer sem dar spoilers.
Mas devo observar que se trata de uma trilogia com um prequel e um
livro extra. Desse modo temos Correr ou Morrer, Prova de
Fogo e Cura Mortal contando o percurso desses jovens em um
experimento científico que chega a ser sádico de tão cruel. Em
Ordem de Extermínio vemos acontecimentos de 13 anos antes,
quando houve a explosão solar e conhecemos a verdade sobre o vírus
que transformou o mundo em um grande caos. Já Arquivos é um
extra curto e de leitura rápida que contém memorandos e arquivos
secretos e transcrições de alguns testes. Esse último considerei
explicativo mas não exatamente essencial.
Embora a
trama seja rica e cheia de elementos que podem gerar horas de
discussão, os personagens são o grande atrativo. São jovens que
passaram por situações extremas, incrivelmente inteligentes e muito
cativantes. Bom, pelo menos boa parte deles. O fato de não terem
memória alguma de suas famílias ou até de si mesmos, terem seus
estados físico, mental e emocional constantemente levados ao limite
e serem enganados o tempo todo, faz com que o leitor crie uma conexão
com eles. Me vi em um jogo de “não cai nessa” e “não
acredito que fizeram isso com ele” sem fim. Entretanto, o mais
marcante é interação entre eles, principalmente a amizade entre
Thomas, Newt e Minho.
O que
mais gostei na trama foi o fato de que apesar de ser algo que respira
ação, existem simbologias e reflexões por todos os lados. É raro
poder ver as duas coisas juntas. Todavia, digo isso pois, porque
apesar das constantes lutas de vida ou morte (no sentido mais literal
da expressão), existem diversos momentos que questionam o conceito
de humanidade e sociedade. A sobrevivência é colocada de tal forma
que os dilemas nem são uma questão de certo e errado, mas de pior e
menos pior. E mesmo que os jovens tenham que tomar uma atitude
extrema, você torce por eles, pois, o que sofreram foi muito pior.
Só não espere por finais felizes, esse não é o caso aqui.
A
narrativa é sempre feita em terceira pessoa, sendo que nos três
primeiros livros acompanhamos a perspectiva de Thomas. Já no quarto
livro temos um primeiro capítulo sobre a perspectiva de Teresa um
dia antes de entrar no labirinto, e então vamos para o passado ver a
degradação do mundo através de um jovem chamado Mark. É uma
narrativa fantástica baseada em fatos e reações, o realismo destes
aliado ao mistério que permeia as páginas provoca uma leitura
frenética e eletrizante. O leitor está sempre na mesma situação
que os personagens, nunca com informações a mais. Exceto no epílogo
de cada livro, onde vemos memorandos da chanceler. Achei uma grande
sacada.
Sobre a
edição, como mencionei lá no início comprei o box lançado pela
Vergara & Ribas no final do ano passado. A arte do box é
muito bonita, com imagens do filme e ainda vem com um pôster de
brinde. Com isso, foi grande a minha surpresa ao constatar que os
livros são de edição econômica. Tudo bem que mesmo assim tem um
material de boa qualidade, com folhas amareladas e fonte confortável.
Mas o box é justíssimo, o que torna a tarefa de tirar e colocar os
livros bem difícil e como as capas não tem abas é preciso um
cuidado extremo para não surgirem orelhas. Só por isso já
recomendo adquirir os volumes individualmente. Outra que em outubro
do ano passado Dashner divulgou que em 2016 será lançado um novo
prequel intitulado The Code Fever (O Código da Febre
em tradução literal) que mostrará a criação do labirinto e como
os jovens foram parar lá. Então se você é do tipo perfeccionista
com sua coleção de livros (assim como eu) não vai
gostar ideia de ter um volume fora do box.
Concluindo,
Maze Runner é uma série cheia de ação e emoção e que
ainda nos faz pensar na humanidade como um todo. Onde fica o bem
quando o dito bem maior exige uma quantidade incontável de atos
repugnantes? Perguntas como essa me acompanharam do início ao fim, e
continuaram comigo após a leitura. Em setembro desse ano já foi
lançada a adaptação do segundo livro, e espero conseguir ver os
filmes logo. Enfim, mais que recomendo.
*Plong é
um termo usado nos livros.
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