Nome:
A Extraordinária Viagem do Faquir Que Ficou Preso Em Um Armário
Ikea
Autor:
Romain Puértolas
Edição:
1/2014
Editora:
Record
Páginas:
256
Sinopse: A
figura de um faquir está associada à meditação, ao treinamento e
à magia. Mas, no caso de Ajatashatru Ahvaka Singh, é mais provável
que o público se depare com truques e trapaças. A última de suas
artimanhas foi convencer sua aldeia a pagar por uma viagem à França
para adquirir a Camadepregösa, um modelo de cama de pregos vendida
pela Ikea. Só que ele não contava em ficar preso dentro de um dos
armários da loja. Nem que o móvel seria despachado para outro país.
Assim, o faquir e seu turbante partem para uma aventura, ainda que
involuntária, pelo mundo, fazendo uma horda de inimigos, alguns
amigos e aprontando muitas confusões pelo caminho.
Comentários:
Já
mencionei em certa ocasião como títulos estranhos tendem a chamar
minha atenção de imediato, e ainda mais se forem grandes. Desse
modo, A Extraordinária Viagem do Faquir Que Ficou Preso Em Um
Armário Ikea despertou meu interesse não só pela capa
minimalista (e bastante chamativa, diga-se de passagem) mas por esse
título bastante sugestivo. A sinopse me pareceu divertida e alguns
comentários aumentaram minha curiosidade. Assim sendo, adquiri o
livro alguns meses após o lançamento e levei mais alguns meses para
poder ler, mas valeu a pena.
Ajatashatru
Ahvaka (pronuncie
Achata
já a tua vaca)
é um faquir que, assim como qualquer outro, todos acreditam viver
baseado nos princípios da meditação indiana. Exceto que na verdade
ele vive de trambiques e golpes dignos de qualquer vigarista de rua.
Sua
maior mentira foi convencer seu povo de que a única solução para
seu reumatismo era adquirir a
mais nova cama de pregos da Ikea, e não pouparam esforços em juntar
dinheiro para que Ajatashatru fosse até a França comprar sua cama
na famosa loja de móveis suecos. A saúde do faquir dependia disso.
Munido
apenas de uma nota falsa de cem euros para comprar sua cama, o
faquir teria uma
viajem curta
porém
cheia de golpes. Começando pelo taxista que se achando muito esperto
decidiu levar o faquir a loja mais distante do aeroporto e
acabou sem nenhum centavo.
Com
a viagem de retorno marcada para o dia seguinte e apenas uma nota que
precisaria ter ao receber a cama também no dia seguinte, Ajatashatru
pensou em se esconder na loja e passar a noite ali. E bem que parecia
uma boa ideia em meio a tantos móveis confortáveis e com a cozinha
do restaurante a sua disposição. Ele só não sabia que naquela
mesma noite alguns móveis seriam despachados para outros países,
inclusive o armário que escolheu para se esconder dos funcionários.
Assim
começa uma odisseia nada convencional de passagens rápidas por
alguns países, mas cheia de aventuras. De forma cômica e reflexiva
acompanhamos a viagem,
não
só geográfica mas emocional, de Ajatashatru.
Acontece que ao conhecer e interagir com as mais diferentes pessoas
que acreditam nele e aceitam ajudá-lo ele passa a ver as coisas de
forma diferente e querer ser uma pessoa melhor. As principais
motivações para esse desejo de mudança vem de Marie, a mulher que
lhe paga um almoço no restaurante da Ikea, e dos imigrantes
sudaneses que tentavam chegar à Grã-Bretanha na caçamba do
caminhão que levava o armário com Ajatashatru.
Mas
nem todo mundo quer ajudar o faquir. Gustave, o taxista, não se
conforma por ter caído num golpe e passa a persegui-lo com um desejo
de vingança mortal. Essa caça rende algumas das partes mais cômicas
e irreverentes da trama. Outras pessoas de índole nada amigável,
como um mercenário que faz tráfico de pessoas para a Europa, também
cruzam seu caminho. E a única saída que Ajatashatru
encontra
para escapar ileso é usando suas velhas artimanhas.
A
verdade é que “A
Viagem do Faquir”
(chamarei assim pra não ficar muito extenso) trata de assuntos
delicados de uma forma que faz o leitor refletir quase sem perceber,
graças ao seu humor quase satírico. Romain
Puértolas usou da experiência que teve no tempo que trabalhou como
policial de fronteira na
França
para falar sobre imigração ilegal e tráfico de pessoas, as
dificuldades e injustiças pelas quais passam essas pessoas que só
querem a perspectiva de uma vida melhor. E ainda construiu para
Ajatashatru
um
passado de miséria e abuso sexual que, não justifica, mas, faz o
leitor compreender a vida de trambiques que escolheu como modo de
sobrevivência e defesa.
Com
uma narrativa fluída feita em terceira pessoa que
consegue explorar muito bem os pensamentos e emoções do
personagens, o leitor passa pelas páginas quase
sem perceber. Os capítulos são curtos e sem numeração, o que
contribui um pouco para a perda de noção do quanto já se passou. A
trama ainda é dividida em partes nomeadas pelos países que
Ajatashatru
passa.
O humor e a linguagem simples empregadas por
Puértolas
só fazem com que o leitor nunca queira parar. E
os nomes complicados ganharam pronúncias hilárias do autor, mas
penso que não deve sido fácil para o tradutor Mauro Pinheiro. Se
ele precisou adaptar algo com o propósito de manter a graça, está
de parabéns.
A
única crítica que tenho sobre “A
Viagem do Faquir”
é a respeito do final, que achei um pouco rápido demais e até meio
atropelado. Mas nada que tire o brilho da obra que
a propósito, está mais do que recomendada. E mal posso esperar pela
oportunidade de conferir outras obras de Romain Puértolas.
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