“E
se as histórias que nossos pais contavam quando éramos crianças
não fossem apenas histórias, mas avisos?” Esse foi o
slogan usado na 1ª temporada da série e que me chamou a atenção
na época da estreia. Poucas semanas antes tinha começado a
acompanhar Once Upon a Time, que também consiste em uma
releitura dos antigos contos infantis. Grimm no entanto
prometia uma abordagem bem diferente e foi nisso que resolvi apostar.
Nunca me arrependi.
Nick
Burkhardt (David Giuntoli) é um detetive do Departamento de
Homicídios da polícia de Portland, que mora com a namorada Juliette
(Bitsie Tulloch) e tem como parceiro de escolta e grande amigo o
detetive Hank Griffin (Russel Hornsby). Tudo em sua vida ia muito
bem, obrigado, até que certo dia ele percebe que ao olhar para
algumas pessoas vê algo mudar em seus rostos. Nesse mesmo dia uma
jovem usando casaco com capuz vermelho é brutalmente morta no
bosque, as marcas de ataque em seu corpo parecem feitas por um animal
embora só haja rastros humanos. E pra completar, sua Tia Marie - que
criou Nick desde que seus pais morreram quando tinha 12 anos - veio
lhe visitar e informar que está com um câncer em fase terminal. Ele
nem imaginava como esses três fatos estariam relacionados e mudariam
sua vida para sempre.
O fato é
que Nick é um Grimm, o que significa que ele pode ver coisas que
outros não podem. É aí que entram as antigas histórias, pois pela
mitologia da série os irmãos Jacob e Wilhelm Grimm – que ficaram
famosos por percorrer a Europa no intuito de fazer registro escrito
delas – teriam esse mesmo dom. E os ditos “monstros” existem,
são os Wesen. Pessoas com um instinto quase animal e que são
capazes das maiores atrocidades. Apenas um Grimm pode reconhecer sua
verdadeira face, e é seu dever caçá-los com o fim de manter o
equilíbrio.
Mas as
coisas não são assim tão preto no branco. Diferente das versões
mais romanceadas dos contos onde monstros são sempre maus e
princesas e príncipes bons, qualquer um pode ser qualquer coisa. E
Nick logo descobre isso com Monroe (Sillas Weir Mitchell), um Blutbad
– algo como um lobo mau – em recuperação que o ajuda a entender
esse mundo Wesen e até a treinar. Veja bem, um Grimm só recebe o
dom quando seu antecessor morre ou está perto disso. No caso, Tia
Marie. Ela foi justamente visitá-lo para entregar seu trailer com as
armas e livros contendo todas as informações que precisaria.
Infelizmente, não teve muito tempo de treiná-lo. Até porque ela não o
deixou ciente de sua origem desde a infância, como deveria.
A verdade
é que ser treinado por Monroe permitiu que Nick fosse um Grimm
“diferente”. Conhecer o mundo Wesen através de um deles evitou
que se tornasse o tipo de Grimm que “corta a cabeça primeiro e
pergunta depois” e serve de carrasco para a realeza. Esta que
por sinal também é introduzida à trama de forma bem inusitada.
Todavia, Nick aprende que alguns Wesen como o Eisbiber – semelhante
a um castor – Bud (Danny Bruno) são totalmente inofensivos. E
mesmo os mais ferozes como o Blutbad podem controlar seus instintos.
Ah, e que nas histórias que os Wesen ouvem quando crianças, os
Grimm são os vilões.
Existem
também muitos segredos e mistérios a serem desvendados.
Inicialmente os mais importantes dizem respeito ao Capitão Renard
(Sasha Roiz), que além de ser superior de Nick na polícia tem lá
os seus segredos que só começam a ser revelados entre a 1ª e a 2ª
temporada. E também uma antiga chave que estava no trailer de Tia
Marie, cuja qual novas informações são dadas de tempos em tempos e
que é fundamental para a trama como um todo.
Todavia,
uma das coisas que acho mais interessantes em Grimm é que
aliar a mitologia dos contos de fadas com o formato policial
procedural (casos semanais) foi uma forma brilhante de trazer sua
essência original para os dias de hoje. Nem todos sabem, mas essas
histórias originalmente não tinham nada de delicado e muito menos
eram para a hora de dormir. Elas eram como folclore, histórias com
um sentido moral e que muitas vezes envolvem violência, sangue e
etc. Mesmo que as versões hoje contadas para as crianças tragam
mensagens do tipo “faça sempre o bem”, deixam em muito a
desejar para o verdadeiro significado de alerta sobre a natureza
humana. Dito isso, a série tem sempre ótimas formas de aplicar o
contexto original dos contos em investigações criminais. Só pra
citar alguns exemplos: Chapeuzinho Vermelho – pedofilia e
canibalismo. Rapunzel – sequestro e carcere privado. E as
vezes além de trazer o tema original ainda agrega algo
contemporâneo, como João e Maria que já trata de abandono e
canibalismo ainda virou pauta para tráfico de órgãos. Poderia dar
muitos outros exemplos, mas temo tirar a graça de descobrir sozinho.
Além
disso, a série não se atém a explorar apenas o universo dos contos
dos irmãos Grimm – que por si só já é bem amplo – mas também
histórias de outros escritores e lendas e mitos dos mais diversos
lugares. Já foram abordados os folclores asiático, latino,
africano... Já teve até um tipo de “lobisomem brasileiro” com
cara de lobo-guará chamado Luison. Da mesma forma que não centra
suas aplicações apenas em crimes, mas aborda fatos históricos,
ceitas religiosas, costumes culturais e por aí vai. Isso por que as
diversas espécies Wesen em muitas ocasiões são usadas como
alegoria para as diferentes etnias, incluindo o fato de que muitos
são contra as misturas de “raças”. De forma que tiveram um modo
bem interessante de falar sobre a II Guerra Mundial e ceitas contra a
miscigenação. Também foram usadas como metáfora para anomalias
genéticas que outrora deram origem aos circos de horror. E sabe as
tais possessões demoníacas? Também já ganharam uma abordagem bem
instigante. Sem falar que tudo isso agrega muito para a trama
principal.
Seria
normal imaginar que Grimm possui uma atmosfera fantástica por
causa dos contos em sua mitologia, e de certa forma dá para dizer
que sim. Porém, creio que fica muito mais para algo que mistura o
sobrenatural e a ficção científica. Isso porque volta e meia são
usadas poções, espíritos e outras coisas que nem todos podem ver.
Mas as vezes também são usadas explicações científicas. Como um
pelo de Blutbad encontrado por Juliette – que a propósito, é
veterinária -, que ao analisá-lo encontrou traços de DNA humano e
animal. Ou a descoberta de que Nick possui um tipo a mais de
bastonetes, o que lhe permite ver coisas que outros não podem. E as
vezes há explicações que mesclam sobrenatural e ciência.
Grimm
estreou dia 28 de outubro de 2011 no canal americano NBC,
teve 88 episódios distribuídos em suas 4 primeiras temporadas, 3 webséries e
recentemente – no último 30 de outubro, mais precisamente - deu
início à 5ª. É bem verdade que nem sempre as coisas foram bem,
mas creio que da metade da 3ª temporada em diante a série atingiu
seu ápice e tornou-se algo imperdível. Sim, sempre gostei mas em
certa ocasião passou de algo “gostável” para
“venerável”. Grimm já ganhou HQs e livros que
espero um dia chegarem ao Brasil. É uma série pouco valorizada e
que pode ser muito mais do que se espera.
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