Nome:
Garota Exemplar
Autora:
Gillian Flynn
Edição:
1/2013
Editora:
Intrínseca
Páginas:
448
Sinopse: Uma
das mais aclamadas escritoras de suspense da atualidade, Gillian
Flynn apresenta um relato perturbador sobre um casamento em crise.
Com 4 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo – o maior
sucesso editorial do ano, atrás apenas da Trilogia Cinquenta tons de
cinza –, "Garota Exemplar" alia humor perspicaz a uma
narrativa eletrizante. O resultado é uma atmosfera de dúvidas que
faz o leitor mudar de opinião a cada capítulo. Na manhã de seu
quinto aniversário de casamento, Amy, a linda e inteligente esposa
de Nick Dunne, desaparece de sua casa às margens do Rio Mississippi.
Aparentemente trata-se de um crime violento, e passagens do diário
de Amy revelam uma garota perfeccionista que seria capaz de levar
qualquer um ao limite. Pressionado pela polícia e pela opinião
pública – e também pelos ferozmente amorosos pais de Amy –,
Nick desfia uma série interminável de mentiras, meias verdades e
comportamentos inapropriados. Sim, ele parece estranhamente evasivo,
e sem dúvida amargo, mas seria um assassino? Com sua irmã gêmea
Margo a seu lado, Nick afirma inocência. O problema é: se não foi
Nick, onde está Amy? E por que todas as pistas apontam para ele?
Comentários:
Como
um dos livros mais aclamados de 2013 e que marcou presença em
diversas listas de dez ou vinte melhores daquele ano, Garota
Exemplar figurava em minha própria lista de desejados há um bom
tempo. Só fui adquiri-lo ano passado e só pude conferir
recentemente. E o que concluí é que existem muitos e bons motivos
para tanto estardalhaço.
Amy
é uma mulher bonita, inteligente e divertida, a típica garota
perfeita. Tanto que seus pais ficaram famosos por escreverem uma
série de livros infantis intitulada Amy Exemplar, onde a
protagonista é inspirada nela. Mas ela desaparece misteriosamente na
manhã de seu quinto aniversário de casamento com Nick, deixando
para trás uma sala de estar revirada – um aparente sinal de luta -
e a porta da frente escancarada. Seu sumiço logo vira motivo de
comoção pública e muita, muita especulação.
Nick
é um homem decente e tranquilo, aquele cara esforçado que cresceu
numa cidade pequena, estudou e trabalhou duro para ser jornalista em
Nova York. Mas o crescimento das mídias digitais levaram ao
fechamento da revista onde trabalhava, e os pais doentes foram um
motivo a mais para fazê-lo voltar a sua cidade natal. Tudo correu
relativamente bem por dois anos, até Amy desaparecer. Na maioria
desses casos o marido não é exatamente o mocinho, e suas reações
estranhas não contribuem para uma boa imagem.
"Surpreendente"
é uma palavra que mal descreve o que Garota Exemplar traz em
sua trama e ainda assim é a melhor que consigo encontrar. O formato
"ele disse, ela disse" contribui para que a
percepção dos fatos e a opinião do leitor mude constantemente. É
um verdadeiro jogo de verdades e mentiras, realidade e dissimulação.
Quem está falando a verdade? O que está escondido por trás disso e
daquilo? Nisso a história vai se moldando e o leitor percebe que a
verdade está longe de ter apenas um lado.
Com
uma narrativa em primeira pessoa que intercala as vozes de ambos os
protagonistas em capítulos medianos (que vão ficando mais curtos
perto do fim) temos uma ampla visão sobre o relacionamento de Amy e
Nick. Os personagens praticamente conversam com o leitor, e essa
sensação se mantém até nas páginas do diário de Amy. Ao meu
ver, isso contribuiu muito para a verossimilhança da trama. É como
realmente ter duas pessoas te contando sua versão dos fatos e
dizendo: "Olha, foi isso que aconteceu e peço que fique do
meu lado." Essa ferramenta acabou me lembrando a série de
TV The Affair, que também usa dois protagonistas relatando
suas versões dos fatos. O engraçado é que ao escrever o balanço de 1ª temporada desta, comentei que o sucesso de Garota Exemplar abrira portas
para obras e produções que mesclassem dramas conjugais/familiares
com thrillers psicológicos, como ainda não tinha lido o livro não
imaginei que a série também tivesse formato semelhante.
A
obra também é dividida em três partes, sendo que a primeira leva o
leitor a acreditar piamente em algo que é totalmente desconstruído
assim que a segunda se inicia. Creio que essa foi mais uma das
grandes sacadas geniais da trama, minha reação foi algo como "você
tá tirando com a minha cara?!". É a partir daí que uma
história que se mostrava interessante se torna eletrizante, pois até
então as coisas vinham se desenvolvendo de forma um pouco mais
lenta. É nesse momento também que se passa a explorar
verdadeiramente a psique dos personagens, levando a pensar como
podemos conviver por anos com uma pessoa sem saber quem ela realmente
é. Até que a terceira parte se desenvolve de um modo que você se
pergunta se realmente existem pessoas tão mentalmente perturbadas.
Até chegar a conclusão que sim, existem.
Senti
um pouco de falta de ter um vislumbre (mesmo que pequeno) das
percepções de outros personagens sobre os acontecimentos e o
relacionamento de Amy e Nick, como os pais dela Marybeth e Rand e a
irmã gêmea dele Margo. E também de acompanhar mais de perto a
investigação, principalmente se fosse pela perspectiva da Detetive
Boney. Mas como o cerne da trama se sustenta intrinsecamente em
explorar e desvendar essas duas mentes altamente voláteis que
formaram um casamento nuclear, isso se torna apenas um detalhe.
Não
posso dizer que o final da obra me agradou, tampouco posso dizer que
idealizei um final para uma trama da qual não sabia o que esperar
por me trazer algo novo a cada página. Não é uma história do tipo
"o bem venceu", afinal o que é o bem? É algo sobre
duas pessoas insanas nesse mundo insano de falsas idealizações em
que vivemos. E o final (que além de tudo foi reticente) foi
condizente com isso, e é o que mais importa.
Em
2014 Garota Exemplar teve uma adaptação para o cinema
estrelada por Ben Affleck e Rosamund Pike e roteiro assinado pela
própria autora Gillian Flynn. O filme foi bem recebido e pela
crítica e teve indicações ao Oscar e Globo de Ouro. De minha parte
espero poder conferir logo o filme, bem como as demais obras de Flynn
na esperança de encontrar algo tão intrigante quanto.
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